Crítica | Shiki Oriori: O Sabor da Juventude

Escrito por: Gabriel Santos

em 14 de agosto de 2018

Recentemente, a Netflix começou a investir pesado em produções orientais, passando a distribuir cada vez mais animes. Entre eles estão as séries animadas, como Violet Evergarden, ou até mesmo filmes, como o premiado Your Name de Makoto Shinkai. Na última semana, sua mais recente aquisição foi o anime chinês Shiki Oriori, que recebeu o título nacional de O Sabor da Juventude.

A princípio, ele chama atenção por ter sido animado pelo estúdio Comix Wave Films, o mesmo responsável por Your Name e outras obras de Makoto Shinkai. Porém, ao assistirmos percebemos que ele não herdou só a qualidade visual, pois o diretor Haoling Li (To Be Hero e To Be Heroine) também conseguiu captar a essência dos filmes de Shinkai.

O filme é composto por três histórias ambientadas em diferentes cidades da China. Elas são contadas por meio de narração em primeira pessoa dos protagonistas e ainda contam com flashbacks da infância, criando um contraponto à vida que levam como adultos.

A primeira, chamada de “O Macarrão de Arroz”, é ambientada em Pequim e conta a história de Xiao Ming, um empregado que se lamenta pela vida dura que leva e se lembra de quando era criança, na época em que comia o macarrão típico da sua terra natal chamado Bifum San Xian.

Na trama, o termo “sabor” do título é levado ao pé da letra, mostrando como um simples prato pode trazer tantas lembranças e conectar pessoas, como o protagonista e sua avó, que sempre preparava o macarrão para ele. Ela também nos mostra como o macarrão influenciou a vida de outras pessoas ao seu redor, mesmo com o passar do tempo. A história consegue emocionar o público, principalmente pelo protagonista nos contar tanto sobre sua vida e de forma tão nostálgica, fazendo com que nos importemos com ele.

A segunda, chamada “Nosso Pequeno Desfile de Moda”, se passa em Guangzhou e acompanha as irmãs Yi Lin e Yi Lu. Uma trabalha como modelo, mas está cansada disso, enquanto a outra estuda para ser estilista. Entre os dilemas vividos está o fato de que Yi Lin acredita estar muito velha para a profissão.

Estão presentes a rivalidade e a concorrência do mundo da moda, onde a beleza e a juventude são fundamentais e é inevitável que em algum momento a pessoa será esquecida. A partir disso vemos nossa protagonista ficar cada vez mais obcecada com a profissão, a ponto de brigar com a única pessoa que representa sua família: sua irmã. Seu estressante cotidiano é contraposto aos momentos da infância com a mãe e a irmã, onde os desfiles eram apenas um momento de descontração e diversão.

A última história se chama “Amor em Xangai” e acompanha três amigos de infância que brincavam ouvindo fitas cassete, mas acabaram se separando quando mudaram de escola. Agora adultos, eles tentam recuperar o tempo perdido, quando Li Mo encontra uma fita que Xiao Yu gravou para ele enquanto eram crianças.

Aqui temos uma ótima construção de romance ao contar a trama por meio de flashbacks que nos permitem conhecer melhor os personagens e a relação entre eles. Isso também faz com que as revelações se tornem ainda mais empolgantes, a partir do momento em que descobrimos as coisas junto com o protagonista.

Esta história é a que mais segue a fórmula Makoto Shinkai, onde temos um romance com obstáculos que fica cada vez mais emocionante ao superá-los. Ela também funciona como uma homenagem ao filme 5 Centimeters Per Second, do mesmo estúdio.

Ainda vale destacar em Shiki Oriori a dublagem brasileira realizada pelo estúdio Vox Mundi, em São Paulo, que conseguiu encontrar vozes que se encaixaram perfeitamente, trazendo naturalidade. Além disso, a adaptação de termos e expressões para nossa língua também foi muito bem escolhida, deixando as cenas ainda mais divertidas e os protagonistas mais cativantes.

Apesar de que em alguns momentos a narração em primeira pessoa se torne um recurso cansativo, principalmente em “O Macarrão de Arroz”, o filme consegue aproximar seus personagens do público pelo saudosismo presente nas três histórias. É possível se identificar com elas, mesmo que se passem do outro lado do mundo, pois tratam de assuntos universais como comida, família e amor. Apesar de não ser um filme de Makoto Shinkai, há muita inspiração dele nesta obra, sendo um destaque entre as produções chinesas e podendo agradar a todo tipo de público.

Crítica | Shiki Oriori: O Sabor da Juventude
Shiki Oriori: O Sabor da Juventude faz um excelente trabalho em resgatar a nostalgia da infância, através de personagens carismáticos e uma trama bem construída.
4.5

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