Godzilla | Os erros e acertos da trilogia

Escrito por: Gabriel Santos

em 08 de fevereiro de 2019

Godzilla é um dos maiores – se não o maior – monstro da história do cinema. Não só em questão de tamanho, sua popularidade é tão grande que vem ganhando filmes desde 1954 e conquistou o mundo com o gênero de kaijus.

Atualmente, enquanto Hollywood está investindo em uma franquia de monstros gigantes com a Legendary – que inclusive ganha uma sequência este ano – o Japão decidiu apostar nas animações na Era Pós-Millennium. E são delas que vamos falar neste artigo: a trilogia de filmes produzida pelo estúdio Polygon Pictures e co-dirigida por Kobun Shizuno Hiroyuki Seshita.

Tudo começou com Godzilla: Planeta dos Monstros, que traz uma proposta bem diferente da que estamos acostumados. Isso porque, na trama, a raça humana perdeu para o monstro e vive no espaço. Porém, o jovem Haruo Sakaki ainda acredita que eles podem recuperar o planeta.

Já em Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha temos a adição de dois elementos muito importantes. Um deles é a tribo indígena Houtua, os descendentes dos humanos que tentam sobreviver ao ambiente inóspito que a Terra se tornou. Enquanto o outro é a tal cidade no limiar da batalha, formada de nano metal, o mesmo material do Mecha-Godzilla. Por fim, Godzilla: O Devorador de Planetas apresenta outro monstro que faz parte do cânone, Ghidorah, visto como uma figura divina pela raça alienígena Exif.

Essas três animações contam com características bem semelhantes com relação às suas estruturas. O foco não está nos monstros, mas sim nos humanos e em como eles podem derrotar o Godzilla levando em conta seus recursos. Enquanto isso é desenvolvido no primeiro ato, o segundo é todo dedicado ao confronto contra as criaturas.

Por ser ambientado em um mundo pós-apocalíptico, esqueça as destruições de prédios e carros, pois eles já foram destruídos. Depois de tanto tempo, o planeta se moldou de forma a favorecer a sobrevivência do Godzilla e o surgimento de outros monstros como ele. Neste caso, é como se a Terra tivesse voltado à Era dos Dinossauros. Além disso, é discutido o fato dos próprios seres humanos terem destruído o planeta enquanto o Godzilla teria salvado.

Além deste conceito, a trilogia abre espaço para fomentar assuntos filosóficos muito interessantes. Por exemplo, no segundo filme a raça alienígena dos Bilusaludos apresenta um conceito de evolução biológica que vai de encontro ao que os humanos propõem, enquanto no terceiro há grande destaque ao tema da religião e à devoção de algo divino.

A partir disso, já podemos notar que essas animações adotam uma abordagem mais crítica sobre a vida e o universo, além de assuntos complexos e mais aprofundados, que vão além da ação. Em alguns momentos os filmes chegam a lembrar a franquia Star Trek.

Um dos elementos mais legais da trilogia está no realismo com o qual tudo é pensado. O roteiro de Gen Urobuchi realmente leva a sério a situação criada, imaginando como seria se um Godzilla atacasse o planeta. A forma como a raça humana se organiza e arquiteta seus planos para derrotar o monstro conta com dados e conceitos científicos precisos, o que pode ser chato para alguns, mas empolgante para outros. Mesmo que não sejam dados realistas, ao menos convencem. O mesmo vale para as forças e fraquezas do Godzilla, que não apenas atira raio pela boca, como também conta com outras características, incluindo um escudo eletromagnético.

Porém, acredito que tanto realismo acabe fazendo com que esse Godzilla tenha alguns pontos negativos. Por exemplo, mesmo acertando em escala, sua movimentação é bem menos fluida se comparada à dos personagens humanoides.

Um dos diferenciais destas produções é o fato delas serem feitas por computação gráfica. O estúdio Polygon Pictures é um dos principais da indústria japonesa que utilizam esse estilo, sendo responsável por animes como Ajin e Knights of Sidonia, além do longa Blame!. Aqui, a alta qualidade é mantida, podendo agradar até mesmo aqueles que são pouco otimistas quanto a esta técnica de animação – como eu.

Com relação aos personagens, Haruo segue todos os requisitos de um protagonista de anime: ele é determinado, nunca desiste e se mostra esperançoso nos momentos difíceis. Por outro lado, um de seus defeitos é sua teimosia e rebeldia, apesar de ser por um bem maior em que ele acredita.

Os filmes deixam claro que a história contada aqui é sobre ele e não sobre o Godzilla, e isso fica evidente no tempo de tela de cada um. Em diversos momentos temos embates diretos entre ele e seu nêmesis, mas em nenhum momento chega a ser absurdo o fato de um humano estar lutando contra um monstro tão grande, pois os riscos e as falhas sempre se mostram presentes.

Quem também se destaca entre os humanos é Martin Lazzari, um biólogo muito inteligente e principal apoio de Haruo durante o período que passam na Terra. Ele conta com a maior parte dos diálogos expositivos, porém necessários para explicar conceitos muito difíceis de se entender. Ainda temos a presença de Yuko Tani, que acaba sendo resumida ao interesse amoroso de Haruo.

Já entre os seres alienígenas, o maior destaque é Metphies. Além de Haruo, ele é o personagem que mais recebe desenvolvimento durante os filmes, se tornando o principal conselheiro do protagonista e trazendo uma sabedoria mais espiritual e menos científica. Ele também conta com uma das maiores viradas na trama, que funciona graças à sua personalidade misteriosa.

As três produções funcionam muito bem como unidade, tanto que suas sequências começam exatamente de onde a anterior terminou, se tornando uma experiência interessante – porém cansativa – assisti-las de uma vez.

Enquanto o segundo filme se mostra uma evolução – e trata sobre esse assunto – o terceiro acaba sendo o mais fraco de todos. Ele passa a inserir conceitos demais – que já eram muitos – e tem pouco foco na ação, se tornando o mais massante. O confronto entre Godzilla e Ghidorah, que poderia ser o maior da trilogia, não recebe tanto destaque, fazendo com que a beleza e o impacto visual durem pouco tempo em tela.

A trilogia Godzilla da Polygon Pictures pode não ser a melhor adaptação do famoso kaiju, mas sabe o que está fazendo. Pode ser um filme difícil para alguns, mas tem seu valor em trazer questionamentos sobre a a vida e o universo. Ele deixa uma identidade única e diferenciada entre os mais de 30 filmes estrelados pelo monstro.

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