Crítica | A Maldição da Mansão Bly

Escrito por: Gabriel Santos

em 07 de outubro de 2020

Em 2018, a Netflix adicionou ao seu catálogo a série de terror A Maldição da Residência Hill, agradando aos fãs do gênero com uma temporada muito bem produzida, reviravoltas criativas e um terror efetivo. Agora, quase dois anos depois, a produção original ganha um novo ano, funcionando como uma série antológica. A Maldição da Mansão Bly é centrada por uma jovem babá contratada para cuidar de duas crianças em uma casa de campo, até que coisas estranhas começam a acontecer.

Neste novo projeto, criado e dirigido por Mike Flanagan e inspirado na obra de Henry James, temos o retorno de alguns atores da primeira temporada, mas interpretando novos personagens, seguindo os moldes de American Horror Story. Não há conexão entre as duas tramas, mas podem ser percebidas algumas semelhanças. Além da mais óbvia – uma casa assombrada – o novo ano também explora as maneiras de lidar com a morte, os traumas deixados pelos fantasmas, a forma como o tempo é percebido, assim como possui diversos elementos instigantes para criar a sensação de que algo está errado, deixando uma pulga atrás da orelha do público. O tom de suspense e a condução da trama também são os mesmos, de certa forma, repetindo uma fórmula que deu certo, mas com uma nova história.

Ao mesmo tempo que a série possui pontos parecidos, ela também conta com diferenças marcantes. Apesar de ter um episódio a menos, parece que o segundo ano é mais longo que o primeiro, pois apresenta um ritmo mais lento e muitas subtramas para serem desenvolvidas, prejudicando a maratona. Mesmo que tudo seja devidamente explicado, o processo até chegarmos nas resoluções é mais confuso do que deveria, com excesso de flashbacks, memórias e devaneios.

Por outro lado, aqui temos um maior destaque para a casa em si, explorando não apenas seu interior como também o entorno. Além disso, enquanto Residência Hill tinha como tema a família, a nova temporada tem como foco o romance, sendo uma história de amor. É muito interessante como a série explora diferentes tipos de relacionamentos, inserindo a temática sobrenatural, seja por meio de relações possessivas ou da clássica frase “até que a morte nos separe”.

O investimento no desenvolvimento dos personagens vale muito a pena, principalmente porque é fundamental que nos importemos com eles para que o terror funcione. Victoria Pedretti introduz o público a este universo, interpretando uma babá dedicada, mas também com muitos traumas. Mas quem realmente rouba a cena são os talentos mirins Benjamin Evan Ainsworth e Amelie Bea Smith. Eles impressionam em papéis desafiadores e com muitas nuances, com um resultado perfeitamente esplêndido.

O suspense da série é um dos pontos mais efetivos. Em várias cenas, a produção poderia cair em clichês de susto, como o clássico fantasma no espelho ou os famosos jumpscares, mas ela está mais preocupada em criar uma atmosfera, fazendo o público entrar na cabeça dos personagens. Também vale fazer uma menção para a edição, principalmente no esforço em conectar cenas, seja por cortes precisamente calculados ou transições quase imperceptíveis. Ainda destaco o incrível controle de mise-en-scène: a série sabe exatamente o que mostrar, quando mostrar e como mostrar, ajudando a construir os momentos de suspense, junto com a trilha marcante.

A Maldição da Mansão Bly é uma ótima história de fantasma, com personagens interessantes, um constante clima de mistério e soluções criativas para o terror. Porém, a experiência ainda não consegue superar Residência Hill, que conta com reviravoltas mais elaboradas, um ritmo melhor e é mais assustadora. De qualquer forma, as duas obras contam com uma excelente qualidade, seguindo batidas semelhantes. Caso você tenha gostado da primeira temporada, vale a pena dar uma chance para esta.

Crítica | A Maldição da Mansão Bly
O segundo ano conta com ótimas atuações e um constante clima de mistério, mas é prejudicado pelo ritmo lento.
3.5

Compartilhe!