Crítica | Bom Dia, Verônica (1ª Temporada)

Escrito por: Gabriel Santos

em 02 de outubro de 2020

Uma das principais novidades da Netflix nesta semana é a série original brasileira Bom Dia, Verônica, dirigida por José Henrique Fonseca. O suspense policial adapta o livro homônimo de 2016, escrito pela criminóloga Ilana Casoy e pelo escritor Raphael Montes, que também são responsáveis por adaptarem a história para o audiovisual. A trama acompanha a escrivã Verônica Torres, que passa a acompanhar casos de violência contra a mulher depois de presenciar um suicídio numa delegacia.

Como toda boa série policial, o lado investigativo é muito bem conduzido e instigante. Conta com elementos clássicos do gênero, como escutas e disfarces, sempre indo direto ao assunto e com novas peças do quebra-cabeça surgindo, mantendo a trama em movimento e facilitando a maratona.

A produção deixa evidente as dificuldades de se fazer justiça no Brasil, envolvendo a corrupção no país, além de mostrar como fica mais complicado quando a vítima é uma mulher. Por conta disso, ela ainda ilustra o quanto é difícil denunciar esses casos e até mesmo para a polícia lidar com esse tipo de situação. O projeto também é eficiente em passar informação para o público sem que soe de forma expositiva, dentro do contexto.

A protagonista Verônica (Tainá Muller) passa muita confiança como uma mulher forte, determinada e corajosa, além de contar com um grande senso de justiça. É comum vermos a personagem tentando ganhar espaço na delegacia e enfrentando problemas internos e externos para ajudar as vítimas. Ela também protagoniza momentos fofos com a família e passa por uma transição sobre como o trabalho começa a afetar sua vida pessoal, trazendo questões de seu passado.

Outro destaque no elenco é o casal Janete (Camila Morgado) e Brandão (Eduardo Moscovis), que retratam um caso de violência doméstica que fica cada vez mais grave com o tempo. Morgado está excelente no papel, principalmente em sequências dramáticas. Ela conta com uma interpretação muito verdadeira, passando a sensação de medo e perigo constantes com muita naturalidade, em situações que geram desconforto para o público – que chegam a lembrar um filme de terror. Ainda vale mencionar o trabalho da maquiagem, que destaca sua expressão abalada. Já Moscovis, mesmo contido na maioria das cenas, vive um serial killer sádico e amedrontador, usando muito do terror psicológico e trazendo nuances para seu personagem.

A série conta com muitos momentos de aflição, intensificados pela trilha sonora e a edição de som. Uma das principais cenas consiste na visão em primeira pessoa de Janete dentro de uma caixa, com uma respiração ofegante, gerando um resultado bem sufocante para o espectador. A violência gráfica também está presente, principalmente em cenas de tortura, mas nada gratuito.

Bom Dia, Verônica é uma produção um pouco difícil de digerir, pois é preocupante como os casos mostrados na ficção são recorrentes na vida real. Ela serve de alerta para um tema muito importante, que aqui é discutido com sensibilidade. A série possui ótimas atuações, uma direção competente e tensão constante, valendo a pena ser conferida.

No final de cada episódio, há uma cartela indicando o site WannaTalkAboutIt.com, que conta com recursos de apoio para pessoas que sofrem com violência e abuso, e precisam de ajuda.

Crítica | Bom Dia, Verônica (1ª Temporada)
O suspense policial conta com uma investigação instigante, momentos tensos e ótimas atuações, retratando um tema difícil e relevante de forma competente.
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