Crítica | Cidade Invisível (1ª Temporada)

Escrito por: Gabriel Santos

em 03 de março de 2021

Netflix sempre demonstrou esforço em contar com um catálogo internacional, dando espaço para produções da Espanha (La Casa de Papel, Elite), Alemanha (Dark, Tribes of Europa), França (Lupin) e, claro, o Brasil. Um dos lemas da plataforma é contar histórias locais que tenham impacto internacional, como é o caso de Cidade Invisível, do premiado diretor Carlos Saldanha. Como brasileiro, é ótimo ver uma série nacional tão bem produzida e que ainda explora o nosso folclore, servindo como uma porta de entrada para que o resto do mundo conheça essas histórias e que nós mesmos valorizemos nossa própria cultura. A trama de Cidade Invisível aborda justamente essa temática, reforçando que devemos preservar nossas tradições. Na história, o detetive da Delegacia Ambiental Eric Alves (Marco Pigossi) investiga um assassinato e se encontra envolvido em uma batalha entre entidades míticas.

Um dos pontos positivos da série é como ela abraça a cultura brasileira. Isso fica evidente desde o primeiro episódio, que já começa com uma Festa Junina. Aqui não há uma tentativa de imitar o que é feito no exterior, e sim mostrar que podemos produzir obras de alta qualidade falando sobre o que temos no país. Para a representação das lendas do folclore, há uma decisão criativa interessante, que é tentar modernizar os personagens para que eles se encaixem na sociedade em que vivemos hoje. Por exemplo, faz sentido que o Saci use uma prótese na perna.

Entre os destaques do elenco, Marco Pigossi consegue carregar a história muito bem, funcionando como o fio condutor e apresentando todo o universo para o público. Mesmo que seja um justiceiro e esteja sempre em busca do que é certo, é interessante que ele não é mostrado como alguém sem defeitos, tendo suas falhas e erros explorados constantemente. Também é ótima a maneira como o roteiro vai, aos poucos, imergindo-o nesse novo mundo, surpreendendo o público conforme a trama progride com as revelações sobre seu passado e o mundo ao seu redor.

Mesmo que seja creditada como participação especial, gostei muito da personagem Gabriela (Julia Konrad) por conta da sua função narrativa, ligada diretamente ao protagonista, além de ter muita presença em cena. Já a atriz mirim Manu Dieguez faz um bom trabalho ao representar um olhar lúdico e infantil do folclore com a personagem Luna, mas peca em cenas que exigem mais dramaticidade.

Entre as lendas, acredito que há muitos personagens que acabam não tendo todo o tempo de tela e desenvolvimento que mereciam. Alessandra Negrini interpreta uma versão sombria e enigmática da Cuca que casa muito bem com a proposta; Jessica Córes possui ótimos momentos, com destaque para a sequência musical na boate; Wesley Guimarães é um carismático Saci; enquanto Fábio Lago interpreta um intenso Curupira. Além destes, há um subaproveitamento de Jimmy London como Tutu Marambá. Para uma primeira temporada, faz sentido que eles sejam apenas apresentados para o público agora e ganhem mais profundidade no futuro, mas ainda fica a sensação de querer ver mais deles em ação.

E por falar em ação, o ritmo mais frenético fica para os dois últimos episódios, pois o foco da obra é o clima de investigação e mistério, com um grande acerto no tom e na forma como a história engaja o público em querer saber o que está por vir. O uso de efeitos visuais é bem pontual e competente, apesar de ser pouco exigido.

Com apenas sete episódios que duram por volta de meia hora, Cidade Invisível é uma boa opção para quem procura séries para maratonar. É uma ótima adição ao catálogo da Netflix, representando mais uma grande produção brasileira no streaming. A segunda temporada já foi confirmada, e podemos esperar a presença de mais lendas do folclore e respostas para o gancho no final.

Crítica | Cidade Invisível (1ª Temporada)
A série acerta no constante clima de investigação e mistério, além de ser criativa na reimaginação do folclore brasileiro.
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