Crítica | Fate: A Saga Winx (1ª Temporada)

Escrito por: Gabriel Santos

em 26 de janeiro de 2021

O Clube das Winx é uma animação que fez bastante sucesso nos anos 2000 e, provavelmente, toda criança que viveu nessa época pelo menos sabe da sua existência. O curioso é que esse foi o primeiro desenho animado italiano a ser vendido nos EUA, tendo como base o sub-gênero de garotas mágicas com a temática de fadas. Uma adaptação para live-action era questão de tempo e já havia interesse do criador Iginio Straffi desde 2011. Porém, mesmo que o próprio esteja envolvido com o projeto, fica a sensação de que a nova série original da Netflix só quis se aproveitar do nome.

Fate: A Saga Winx e O Clube das Winx são duas obras muito distintas. Enquanto a animação era voltada para garotas de 7 a 13 anos, a nova versão tem como foco jovens adultos. Para isso, a trama foi transformada em uma dark fantasy, bem mais sombria e dramática, mas ao mesmo tempo moderninha, abordando dilemas adolescentes.

Uma das principais diferenças está na construção de universo. Mesmo que o Outro Mundo seja definido como um lugar mágico, com fadas e bruxas, as ambientações remetem ao mundo real. Por mais que seja uma questão artística, causa estranhamento uma região que é cercada por magia usar tecnologias de forma arbitrária. Além disso, é muito contida a forma como exploram o lado místico da série, fazendo com que o público até se esqueça que trata-se de uma história sobre fadas, parecendo mais que são apenas pessoas com “poderes mágicos” de forma geral.

A ação é um dos pontos que a produção deixa a desejar. Por exemplo, é decepcionante o que fizeram com os Especialistas em relação à animação. Ainda que seja um grupo de estudantes militares e lutadores, eles não têm muito o que fazer e são usados de forma muito superficial. Nas poucas cenas de ação, as sequências de luta são mal dirigidas e confusas. Já com a magia das fadas, elas também aparecem pouco, mas pelo menos contam com um CGI competente.

Assim como no original, a trama gira em torno de Bloom e suas habilidades excepcionais, que estão ligadas à Chama do Dragão. Todo o mistério construído é instigante e funciona, apesar de se perder ao longo do caminho com um excesso de reviravoltas nos útimos episódios. Também há muita apelação para o melodrama, assim como o exagero nos conflitos. Já a tentativa de terror não vai muito além de jumpscares óbvios.

A formação do grupo principal sofreu algumas alterações, como a troca de Flora por Terra e a ausência de Tecna. Os fãs mais puristas também podem ficar desapontados com as mudanças étnicas das personagens, como Musa não ser vivida por uma atriz asiática, mas ainda há uma tentativa de manter algum tipo de diversidade com as integrantes.

Bloom (Abigail Cowen) é uma protagonista obstinada, guiada pela motivação de descobrir seu passado. Por mais que tome atitudes egoístas e incoerentes, ainda é possível compreender suas decisões pela montanha-russa de sentimentos que passa. Terra (Eliot Salt) é uma personagem que foi escrita para ser a chata do grupo, dificultando algum tipo de empatia no início, mas ainda possui um ótimo arco de autoconfiança. Musa (Elisha Applebaum) é, conceitualmente, uma das mais interessantes por ser uma fada empata, apesar de ter seu potencial desperdiçado pelo roteiro. Enquanto sua habilidade de interpretar emoções poderia ser usada de forma mais criativa e estratégica, ela acaba apenas explicando coisas que já estão óbvias, sendo a mais inútil do grupo. Aisha (Precious Mustapha) funciona muito bem como a melhor amiga da protagonista nos episódios iniciais, servindo como suporte emocional, porém, com o tempo, acaba sendo deixada de lado. Já uma das maiores surpresas é Stella (Hannah van der Westhuysen), um dos pontos altos mesmo sendo bem diferente da original. Aqui ela faz o papel de rival/antagonista e uma das personagens com mais camadas. Ao mesmo tempo que é presunçosa e com personalidade forte, também é insegura, dependente e pressionada pela família.

Quanto aos Queimados, por mais que sejam definidos como uma ameaça em potencial, isso nunca é mostrado de fato. Tanto que a protagonista e suas amigas os derrotam fácil e rapidamente, enquanto pouquíssimas pessoas são feridas por eles.

A série ainda conta com facilitações do roteiro e usa as regras de seu universo quando convém. Por exemplo, logo no início é definido que os poderes das fadas estão diretamente ligados ao controle das emoções, mas isso fica apenas no texto e raramente é posto em prática.

Fate: A Saga Winx tem um público muito bem definido e, para atingí-lo, foi preciso fazer muitas mudanças no material original. Por um lado, é interessante recontar a história para um novo público, só que muito pouco da animação é aproveitada, perdendo sua essência. No fim, a série conta com a mesma fórmula de outras produções originais da Netflix voltadas para adolescentes, e de “Winx” só tem o nome.

Crítica | Fate: A Saga Winx (1ª Temporada)
A adaptação aproveita pouco do material original, usando a mesma fórmula de outras produções originais da Netflix para adolescentes.
2.5

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