Crítica | Game of Thrones: Temporada 8 – Episódio 3

Escrito por: Jose Gabriel Fernandes

em 29 de abril de 2019

“O inverno chegou”… Desde o início da série, essa frase é repetida com muita frequência. Com o passar do tempo, esse inverno foi se mostrando menos metafórico do que parecia ser (apesar da constante presença dos White Walkers). O inverno é um exército de homens de gelo, que avança como uma verdadeira tempestade de neve. O diretor Miguel Sapochnik entendeu isso, começando o episódio de forma poética ao retratar a batalha como um duelo entre duas forças da natureza. O contraste entre luzes e sombras dá a partida, tornando o embate muito mais interessante do que qualquer cena genérica de ação. Ver as lâminas flamejantes dos dothrakis se aproximando das trevas – e lentamente se apagando na sequência – nos transita da satisfação ao medo com muita leveza. A sequência apresenta elegantemente a dualidade em questão: um literal confronto entre a vida e a morte.

Infelizmente, isso vai se perdendo no decorrer da trama, abrindo espaço para uma batalha mais corporal, que foge da essência da coisa. As lutas, em si, não são de todo o ruim. Recentemente, Sapochnik revelou uma inspiração em O Senhor dos Anéis: As Duas Torres para construir a ação, e isso é perceptível. As duas batalhas são executadas com muita precisão, graças a uma direção pragmática e uma montagem baseada no senso de ação e consequência. Com isso, tudo se torna mais envolvente e compreensível, mas não necessariamente empolgante.

Devemos ressaltar os trabalhos de coreografia, direção de arte, edição de som e atuação, que tornam tudo o mais palpável possível dentro daquele universo, só que o roteiro não consegue aproveitar essa excelência ao máximo para entregar algo verdadeiramente memorável. The Long Night resiste em oferecer viradas surpreendentes ou respeitar uma lógica minimamente crível, tornando guerreiros menos experientes ou habilidosos verdadeiros fenômenos dos campos de batalha, por conta de uma certa popularidade. Antigamente, a série sacrificava seus personagens indiscriminadamente, mas, agora, apaga centenas de dothrakis e imaculados (os supostos soldados mais letais dos sete reinos), enquanto os mocinhos enfrentam, quase individualmente, uma horda de zumbis super-poderosos. Por consequência, os atos heroicos de figuras queridas como Arya e Theon perdem o peso – tudo parece fácil demais.

Game of Thrones não é a primeira – e nem será a última – produção de ação a fazer algo do tipo. Em boa parte dos casos, tal inconsistência passaria despercebida. Mas, para uma série que matou protagonistas e tornou personagens secundários importantes, não deixa de ser um pouco decepcionante. Há tempos (provavelmente desde a quarta temporada), a série se reconheceu como um grande fenômeno no mundo do entretenimento e adotou tendências apelativas para agradar ao público – mas isso não é, e nunca foi, o que tornou Game of Thrones esse fenômeno, para início de conversa. Sinto falta do programa que, corajosamente, se lançou tentando explorar as complexidades do ser humano, ainda que em meio a um contexto fantasioso. Quem sabe, agora que o inverno acabou, voltemos a ver isso? Afinal, a esperança é a última que morre (tirando os protagonistas da série, evidentemente).

Crítica | Game of Thrones: Temporada 8 – Episódio 3
“The Long Night” é tão grandioso e previsível quanto prometia ser. O episódio se destaca pela excelência técnica e a quantidade de fan service, mas infelizmente demonstrou o quanto a série está refém desse último aspecto.
3.5

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