Crítica | Aladdin (2019)

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 22 de maio de 2019

Nessa onda de live-action, a Walt Disney Pictures já está em seu segundo lançamento do gênero, somente neste ano. Aladdin foi lançado em 1992, e o desafio de criar um remake parecia difícil (e até desnecessário), considerando que a história tinha ensinamentos e desenvolvimento bem concluídos. A questão é que, apesar das inevitáveis comparações, observa-se que o diretor Guy Ritchie conseguiu trabalhar bastante com o material original e, ao mesmo tempo, injetar certa personalidade em sua versão. Além disso, é interessante notar que os roteiristas não quiseram apenas fazer um “copiar, colar”, mas sim trazer mais profundidade para os icônicos personagens – o que garante o ótimo resultado do projeto.

Detalhe que tudo da animação continua nesse remake: as músicas marcantes; os dilemas do Aladdin; seu romance com Jasmine; a amizade com Abu; o Gênio e Tapete Mágico; Jafar e Iago. O roteiro segue praticamente à risca o que já conferimos, porém apresenta mudanças significativas e também acrescenta algumas particularidades que enriquecem a narrativa. Ritchie tem um histórico trabalhando com ação (Sherlock HolmesRei Arthur: A Lenda da Espada) e aqui, ele soube utilizar pontualmente a sua assinatura, principalmente nas cenas de perseguição do protagonista e em termos de coreografia.

Logo nos primeiros minutos, Aladdin traz uma energia deliciosa e recebe o mérito de apresentar um belíssimo design de produção. Um plano-sequência passeia por toda Agrabah e seus habitantes, com a câmera levando o espectador a se tornar exatamente alguém que se encantará por aquele lugar – como o Gênio mesmo anuncia. Desde o figurino, passando pelas casas e o palácio, vemos uma forte influência do cinema de Bollywood – tanto que a sequência de Prince Ali é a mais bem realizada pelo longa. É um contraste de cores que definem todo esse universo, demonstrando o cuidado da equipe em criar algo mágico, mas com o pé na realidade. Assim, esse cenário se torna perfeito para contar a história dos personagens – que, como disse anteriormente, ganham mais profundidade.

Aladdin é um ladrão esperto e galanteador, mas de bom coração e sempre ajudando qualquer pessoa, sem julgamentos prévios. Diferente da animação, aqui ele inicialmente não ajuda Jasmine por interesse romântico, e sim pois percebe a injustiça que será cometida contra ela. Então, à medida que a conhece, vai se apaixonando. Parece uma mudança simples, porém só reforça o verdadeiro caráter dele. O personagem exigia carisma e Mena Massoud conseguiu tal feito, entregando uma ótima atuação (inclusive vocal) e química com Naomi – a canção Um Mundo Ideal é novamente emocionante, pois a fotografia noturna azulada recria a magia do momento.

Naomi Scott é também puro talento. A atriz não só possui uma incrível voz, como soube equilibrar a força e fragilidade de Jasmine, encaixando no papel. A princesa é uma das mais famosas da Disney, justamente por não aceitar regras e querer tomar suas próprias decisões. O roteiro destaca esse empoderamento da personagem em vários momentos, como na inédita música solo Speechless, e principalmente dando-lhe um arco narrativo de mais liderança e poder de escolha (não contarei mais detalhes para não estragar a surpresa).

Entretanto, o verdadeiro rei do filme é o Gênio do Will Smith. Will está hilário no papel, com diálogos afiados e um timing cômico sensacional. Em nenhum momento ele tenta imitar o trabalho de Robin Williams na animação, criando então a sua própria versão do personagem, colocando bastante da sua carreira. Gênio tem um pouco de Um Maluco no PedaçoHitch – Conselheiro Amoroso e o talento do ator. Para quem estava com medo do CGI do personagem, percebe-se que o estúdio trabalhou os efeitos visuais, apresentando um resultado muito melhor do que foi visto nos trailers.

O grande porém fica por conta de Jafar. Não necessariamente pela atuação de Marwan Kenzari, pois existe um problema de direção claro por parte da equipe, mas é aquele caso de quando o ator e o papel não se combinam. Jafar é um vilão com atitudes que lhe exigiam imponência e causassem medo, e não vemos isso no ator. Mas seu desenvolvimento é bastante válido, considerando a novidade na personalidade do personagem. Cito também Nasim Pedrad, que é bastante divertida como Dalia, mas não possui a devida relevância na narrativa.

Por fim, a escolha desse elenco também merece ser ressaltada. Considerando que temos uma história que se passa no Oriente Médio, decidir por atores que tenham relação ou proximidade com a região é outro excelente acerto da produção. Para citar alguns: Mena é egípcio-canadense; Naomi é inglesa, mas com descendência indiana; Marwan nasceu na Holanda e vem de uma família tunisiana; e Nasim é iraniana-americana.

Aladdin tem tudo para se tornar um sucesso, pois é um live-action mágico, divertido e mais um acerto da Disney, nas mãos de Guy Ritchie. Definitivamente, o selo de qualidade para toda a família. Os personagens encantadores nos fazem querer ver mais histórias com eles. Já que teremos uma sequência de Malévola no final do ano, nada mais justo do que refazer O Retorno de Jafar e Aladdin e os 40 Ladrões. Será?

Crítica | Aladdin (2019)
Aladdin é um live-action mágico e visualmente incrível, ao melhor estilo Bollywood. Com elenco talentoso, em termos interpretativos e vocais, o diretor Guy Ritchie entrega um belo musical, deixando também a sua assinatura. Uma divertida viagem por um mundo ideal.
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