Crítica | Ameaça Profunda

Escrito por: Gabriel Santos

em 08 de janeiro de 2020

Uma fórmula muito comum em filmes de terror é aquela onde um grupo precisa sobreviver a algum perigo, em um lugar delimitado, mas acaba morrendo um a um. Ela já foi adaptada para cabanas, naves espaciais e, agora, Ameaça Profunda a leva para o fundo do mar. Na trama, um grupo de pesquisadores está meses trabalhando em um laboratório subaquático a onze mil metros de profundidade. Porém, depois de um terremoto, eles precisam sobreviver com os recursos que restam e enfrentar uma criatura misteriosa.

Logo no início, a produção faz um bom trabalho ao retratar a aflição que é estar tanto tempo submerso através de um voice over de Norah (Kristen Stewart). Há muito silêncio e calmaria, ainda com a sensação de que alguma coisa está errada. Só depois dessa atmosfera ser construída que a ação começa, em um ritmo que flui bem e com muita tensão, ditada durante todo o longa. Nesse ponto, Ameaça Profunda é bem competente, apresentando longos planos claustrofóbicos e angustiantes.

É possível notar um uso recorrente da câmera na mão, assim como a exibição dos eventos da perspectiva dos personagens, com uma câmera subjetiva. Esses recursos passam a impressão de que há um perigo iminente, que pode aparecer de qualquer lugar. Por outro lado, ele também é usado para jumpscares que quase nunca funcionam e só tornam o projeto ainda mais óbvio.

Nas sequências onde os personagens estão no fundo do mar, o filme trabalha com o escuro das profundezas, onde a fotografia de Bojan Bazelli usa artifícios para que sempre vejamos com clareza apenas o que ele quer mostrar. Porém, ainda há cenas confusas e pouco inventivas, prejudicadas pela direção de William Eubank.

Um dos grandes problemas da produção é justamente se apoiar muito nos clichês e diálogos expositivos. Apesar de fazer um trabalho competente em termos de atmosfera, fica a sensação de que já vimos essa mesma história outras vezes, deixando-a sem identidade própria. O roteiro de Brian Duffield e Adam Cozad ainda conta com alguns furos e facilitações narrativas, além de decisões questionáveis e simbolismos que não são explorados.

O longa é composto, basicamente, por seis personagens ao todo, só que mesmo com um número reduzido, isso não significa que eles passam por um grande desenvolvimento. Pelo contrário, poucos são carismáticos ou interessantes o suficiente para que nos importemos com eles. Quem se destaca é Kristen Stewart, que praticamente carrega o filme nas costas, não só por ser a protagonista e ter mais tempo de tela, como também pela atuação convincente. T.J. Miller funciona como um ótimo alívio cômico, bem ao estilo característico do ator, não oferecendo mais que isso. Jessica Henwick e John Gallagher Jr. vivem um casal que têm nenhuma química, o que dificulta na criação de uma conexão. Vincent Cassel entrega um dos papéis mais complexos por viver o líder da equipe e ser responsável por tranquilizar o grupo, ao mesmo tempo que lida com seus próprios dilemas. Já Mamoudou Athie conta com um bom potencial, porém é desperdiçado pela presença reduzida.

Para os fãs desse tipo específico de terror, Ameaça Profunda deve ser agradável, apesar da sensação de ser mais do mesmo. O projeto se destaca pela ambiência aterrorizante, mas não explora os elementos apresentados, desde os personagens aos monstros. Mesmo que se passe a onze mil metros de profundidade, o roteiro ainda é raso.

Crítica | Ameaça Profunda
Apesar de criar uma atmosfera assustadora e um clima de tensão constante, o filme peca pela falta de inovação, se apoiando em clichês do gênero e diálogos expositivos. Kristen Stewart carrega o filme, interpretando uma das poucas personagens com a qual realmente nos importamos.
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