Crítica | Borat: Fita de Cinema Seguinte

Escrito por: Gabriel Santos

em 25 de outubro de 2020

Em 2006, Borat pegou muita gente de surpresa com um mockumentary (documentário falso) que acompanha um jornalista do Cazaquistão nos EUA. O personagem, criado e interpretado por Sasha Baron Cohen, é um dos principais nomes desse estilo, tornando-se uma figura controversa por apresentar diversas críticas sociais a partir das diferenças culturais entre os dois países. 14 anos depois, uma sequência foi gravada em segredo e agora está disponível no Amazon Prime Video. Na trama, depois do Cazaquistão virar motivo de piada no mundo todo por causa do primeiro filme, o repórter tem a missão de conquistar o respeito do presidente americano Donald Trump.

Uma das principais diferenças entre o primeiro e o segundo longa é a maior quantidade de cenas dramatizadas – estreladas, em sua maioria, por Borat (Sacha Baron Cohen) e sua filha Tutar (Maria Bakalova). Por um lado, os dois possuem muita química juntos e estão bem imersivos nos personagens, em momentos que ajudam a tornar a história mais linear e direcionada, com um roteiro mais elaborado. Porém, esse elemento tira um pouco a ideia de que o filme é uma gravação amadora, principalmente pelas sequências bem filmadas, parecendo uma produção de Hollywood com um aspecto “fake“.

Mesmo após mais de uma década, Sacha Baron Cohen convence muito bem como Borat, mantendo sua essência. Aqui, o personagem ganha ainda mais camadas, com objetivos mais bem definidos, um arco melhor construído e momentos de elucidações sobre suas ações. Já Maria Bakalova é uma ótima surpresa, protagonizando momentos “Borat” e funcionando muito bem dentro do contexto, trazendo discussões sobre o feminismo por meio de sequências cômicas, mas também surpreendentemente emocionantes.

É interessante ver a repercussão do primeiro filme na tela, quando reconhecem Borat na rua, levando-o a usar disfarces, criando personagens dentro de outro personagem. Aqui, as cenas de interação com pessoas reais vão ainda mais além, ganhando uma dimensão maior e um novo valor nessa produção. Elas ainda são extremamente divertidas, com muita vergonha alheia e um texto afiado, porém, são ainda mais críticas, e dizem mais sobre nossa sociedade do que sobre o próprio protagonista. É absurdo, por exemplo, como as pessoas concordam com as coisas que Borat sugere sem questionar, assim como falam e fazem coisas muito preocupantes – entre elas, uma saudação nazista.

Ao mesmo tempo, também é confortante ver pessoas bem intencionadas, como a babá Jeanise Jones, que rouba a cena quando discute o direito das mulheres com Tutar, e a judia Judith Dim Evans, esclarecendo sobre o Holocausto. O filme é bem didático em retratar os preconceitos do personagem, deixando claro o quanto sua visão era errada.

Outro mérito é o quanto a produção é atual. Afinal, tem coisa mais atual do que a pandemia de COVID-19? Toda o debate sobre as fake news, a discrença na ciência e o caráter político por trás do tema é muito bem exposto e vivido pelo personagem. Para os EUA, o ano de eleições também movimenta as críticas bem-humoradas ao governo Trump, inclusive incentivando as pessoas a votarem.

Fita de Cinema Seguinte é uma grata surpresa para o conturbado ano de 2020. Irônico, relevante e vergonhoso (no bom sentido), a produção aborda temas sérios e preocupantes sobre a sociedade moderna por meio do característico humor do repórter do Cazaquistão. O longa é mais ousado, mais bem estruturado e crítico que o anterior, chegando no timing perfeito.

Crítica | Borat: Fita de Cinema Seguinte
A sequência é mais ousada, crítica e linear que o filme anterior, discutindo temas atuais com o tradicional humor de Sacha Baron Cohen.
4.5

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