Crítica | Crime Sem Saída

Escrito por: Gabriel Santos

em 10 de dezembro de 2019

Quando pensamos em filmes de ação, a primeira coisa que vem à nossa cabeça são blockbusters de grande escala com foco na ação escapista e pouco destaque para a história em si. Já Crime Sem Saída se diferencia justamente por inverter essa ideia, humanizando seus personagens e ainda fazendo comentários sociais em um tom mais realista do que estamos acostumados, surpreendendo os desavisados.

O projeto tem como principal chamariz o nome dos Irmãos Russo, responsáveis por Vingadores: Ultimato, só que desta vez como produtores. Mas não vá esperando uma produção aos moldes da Marvel Studios, mesmo que seja estrelada pelo mesmo ator de Pantera Negra. O diretor Brian Kirk, conhecido principalmente por séries, faz um bom trabalho em não tornar seus personagens heróis ou vilões, além de lidar com eventos que poderiam ser manchetes de jornal. A história acompanha o detetive da polícia de Nova York Andre Davis (Chadwick Boseman), que precisa solucionar um caso envolvendo a morte de policiais, mas com o tempo descobre que as coisas não são tão simples como parecem.

Um dos grandes méritos de Crime Sem Saída é o roteiro de Adam Mervis e Matthew Michael Carnahan, justificando de forma eficiente as motivações dos personagens. Sem entrar em spoilers, conhecemos todos os lados da história, envolvendo a área cinzenta entre o bem e o mal. Isso faz com que bandidos e policiais se pareçam mais com pessoas reais, ajudando o público a sentir empatia por eles. No entanto, mesmo que os diálogos sejam bastante afiados, seu excesso pode incomodar, já que praticamente tudo é resolvido através deles.

À medida que a trama avança, a tensão e a gravidade aumentam exponencialmente, deixando o espectador cada vez mais envolvido com o caso. Os plot-twists podem até ser dedutivos, mas o que atrai aqui é ver como o detetive descobrirá o que acabamos de saber. Como a trama transita entre diferentes perspectivas, cria uma sensação de cumplicidade ao sabermos algo que outros personagens escondem.

Um dos pontos que faz o longa funcionar é a veracidade das atuações. Boseman interpreta um policial analítico, com sangue frio e uma grande capacidade de dedução. Ele diz coisas com tanta segurança e autoridade que é quase impossível não acreditar nele. Também é bom ver que o protagonista não resolve os problemas matando todo mundo, fugindo de uma convenção do gênero. Isso não quer dizer que ele não entregue ótimas cenas de ação, porém, felizmente, não é o que sustenta a trama. Ainda temos Frankie Burns (Sienna Miller), que fica em segundo plano durante a parte investigativa, funcionando melhor no último ato, além do Capitão McKenna (J.K. Simmons) que aparece pontualmente, mas sempre rouba a cena.

Já a dupla de criminosos Michael (Stephan James) e Ray (Taylor Kitsch) conta com uma dinâmica pautada na dualidade, onde temos um mais racional e o outro instintivo, resultando em interações conflituosas. O destaque fica para James, que consegue passar o nervosismo, insegurança e medo de estar em uma situação que não tem mais controle. As sequências em que contracena com Boseman, como nas negociações, estão entre as melhores.

A produção se passa quase totalmente durante uma madrugada em Nova York, contando com uma boa diversidade de locações, mas a fotografia de Paul Cameron nunca deixa o espectador perdido com o que está acontecendo em cena. A trilha sonora de Henry Jackman ajuda a injetar a dose de apreensão pedida, mas o filme também intercala com silêncios necessários para momentos de seriedade.

Crime Sem Saída é uma grata surpresa para os fãs do gênero, se tornando um ótimo thriller investigativo sem deixar de lado sequências de ação. O destaque fica para a forma como os personagens são trabalhados, com mais profundidade e mostrando todos os pontos de vista na história. A trama se preocupa tanto com os detalhes, que é bom ficar com os olhos na tela para não perder nada.

Crítica | Crime Sem Saída
O thriller investigativo tem seu roteiro como um dos principais méritos, apresentando uma trama engenhosa que se torna cada vez mais envolvente com o tempo. Destaque para Chadwick Boseman, que foge das convenções do gênero, e Stephan James pela humanidade que passa para seu personagem.
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