Crítica | Crônicas de Natal 2

Escrito por: Gabriel Santos

em 08 de dezembro de 2020

Em 2018, a Netflix lançou o ótimo Crônicas de Natal. A aposta natalina da plataforma trazia Kurt Russell como um Papai Noel moderno e bem-humorado, um roteiro redondo e uma bela mensagem sobre família. Agora, em 2020, o serviço de streaming disponibilizou a sequência, que tenta repetir o mesmo feito em uma escala maior, mas falha como uma continuação desnecessária.

Crônicas de Natal, de Clay Kaytis, termina de forma tão satisfatória que, quando anunciaram o segundo longa, me perguntei o que mais poderiam explorar dessa história. Não há nenhuma ponta solta para uma sequência além da apresentação de Goldie Hawn como Mamãe Noel. E foi exatamente esse ponto que o projeto dirigido por Chris Columbus resolveu caminhar: se o primeiro filme focou nos Estados Unidos, agora é a hora de irmos até o Polo Norte. Na trama, o duende Belsnickel começa um plano de vingança roubando a Estrela de Belém, que fornece energia à Aldeia do Papai Noel. Para isso, o bom velhinho conta com a ajuda das crianças Kate e Jack para salvar o Natal.

Uma das principais mudanças entre esse e o anterior é a dinâmica entre os irmãos protagonistas. Enquanto no primeiro havia uma relação bem construída entre Kate (Darby Camp) e Teddy (Judah Lewis), desta vez a garota embarca em uma aventura com Jack (Jahzir Bruno), filho do seu novo padrasto, Bob (Tyrese Gibson). O problema é que os dois passam pouco tempo de tela juntos, dificultando o desenvolvimento do laço entre eles.

Separados, Kate agora é uma adolescente que precisa lidar com o ciúme que sente pelo novo namorado da mãe, enquanto Jack deve aprender a ter coragem. As duas temáticas funcionam, apesar da superficialidade, sendo melhor abordados em A Caminho da Lua, por exemplo. Com exceção de um momento dramático ou outro, parece que o projeto está mais preocupado em trazer sequências de ação grandiosas e expandir o universo da franquia do que desenvolver seus personagens.

Essa questão persiste no Papai e Mamãe Noel. O personagem de Kurt Russell não passa por nenhum tipo de evolução comparado ao filme anterior, mesmo sendo um dos protagonistas. Já a Mamãe Noel de Hawn não tem muito o que fazer e poderia ser melhor explorada, pois tem mais espaço. Por fim, Belsnickel é resumido ao vilão caricato com frases de efeito, desperdiçando o talento de Julian Dennison.

Visualmente, Crônicas de Natal 2 consegue fazer um ótimo trabalho de construção de mundo. A Aldeia do Papai Noel no Polo Norte é um espetáculo à parte, e até dá vontade de passar mais tempo por lá, com um aspecto bem contemplativo. O que atrapalha é a sequência extremamente introdutória quando as crianças chegam no local, pois não se encaixa narrativamente na história em si, mais parecendo que tudo é mostrado apenas para o público, e não para os personagens. Além disso, assim como no primeiro filme , o design dos duendes, das renas e de outras criaturas vivas não interagem muito bem com os humanos, ficando claro que são seres criados digitalmente. E aqui há muito mais CGI do que no anterior, tornando-se ainda mais agravante.

A produção ainda possui problemas de roteiro. Há características dos personagens que são apresentadas na introdução, mas logo são esquecidas, momentos desafiadores que são resolvidos de forma simplória, repetições, incoerências e facilitações narrativas. Outro problema é a sensação constante de que nunca há um perigo ou ameaça de fato. Sempre que alguém se machuca, algo dá errado ou o vilão parece estar perto de vencer, ainda parece que tudo vai dar certo no fim.

Apesar de todos os problemas citados acima, Crônicas de Natal 2 ainda pode divertir os fãs de filmes com essa temática. Há diversas referências a produções natalinas e outros elementos desta época, além de músicas clássicas e um número musical mais ambicioso que o da primeira produção. Também é inegável a tentativa de expandir sua mitologia, apresentando a origem de Papai Noel, os duendes e o universo.

Crônicas de Natal 2 é inferior ao anterior, pecando pela ambição, investindo demais na grandiosidade e se esquecendo do espírito do Natal – algo que o primeiro faz muito bem. Para quem está interessado em se aprofundar na mitologia desse universo vale a pena conferir, mas se você procura um bom filme de Natal há opções melhores na Netflix, incluindo o longa anterior.

Crítica | Crônicas de Natal 2
Com uma proposta mais ambiciosa e expandindo o universo da franquia, o longa peca no desenvolvimento de seus personagens e possui problemas de roteiro, sendo inferior ao filme anterior.
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