Crítica | Fahrenheit 451 (2018)

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 21 de maio de 2018

Os livros são um dos grandes acessos a informação. E apesar do conhecimento não ser uma realidade de todos – seja por não chegar a vários lugares do mundo ou por haver algum tipo de censura – ele é o que cria opiniões e discussões, além de trazer ideias e cultura. Através de uma visão pessimista do futuro, Fahrenheit 451* (2018) trata esse assunto, mas falha bastante em sua abordagem.

Baseado na obra de Ray Bradbury e produzido pela HBO Films, o filme mostra uma sociedade do futuro na qual livros são proibidos e queimados a 232°C (ou 451°F – que dá o título). Só que o bombeiro Guy Montag (Michael B. Jordan) começa a ler em segredo e descobre uma organização rebelde subterrânea, engajada em proteger a literatura.

A trama traz questionamentos sobre ditadura e liberdade, fazendo até um paralelo com o Nazismo. O chamado Ministério comanda tudo e é cheio de discursos e lemas, sendo sempre apoiado por uma sociedade agressiva. Mas o diretor Ramin Bahrani não faz questão de aprofundar isso. Quando parece que seguirá por esse rumo, ele mostra sequências boas e interessantes – como as do braille – mas simplesmente nos leva para outro, focando em cenas de ação, perseguição e um romance sem desenvolvimento algum.

O grande problema desse longa é ser completamente genérico e rasoFuturos distópicos com questões políticas e sociais envolvidas não é novidade em filmes – Jogos Vorazes, por exemplo, trabalha isso muito bem. Mas Fahrenheit 451 trata sua história de forma extremamente superficial, se tornando mais uma jornada do herói que se rebela pois percebe que a sociedade em que vive não é tão perfeita como achava.

A história segue uma linha narrativa tão óbvia que é possível deduzir tudo que vai acontecer nos primeiros minutos de filme. Não há boas explicações sobre o porquê daquele mundo estar daquela maneira. E esse sentimento de não saber quase nada torna tudo cada vez mais desinteressante ao longo das quase 2h de projeção.

Michael B. Jordan e Michael Shannon trazem interpretações medianas. Depois de estar ótimo em Pantera Negra, Jordan não traz um grande personagem, mas tem seus momentos. Shannon parece fazer um vilão genérico, mas em determinado momento ele deixa de ser unidimensional e ganha destaque. Sophia Boutella também está no elenco, mas sua personagem não é bem desenvolvida.

Mesmo entre tantos erros, o longa acerta em sua estética sombria. Adotando um estilo neo-noir recebemos belas cenas e um sentimento de solidão e falta de otimismo, que dão o tom da história. Mas é importante ressaltar que a escuridão incomoda em alguns momentos, principalmente para se entender o que está acontecendo em cena.

É possível perceber que muitos dos conceitos apresentados pelo roteiro se assemelham aos de O Doador de Memórias (2014). Ambos são adaptações literárias mas, diferente desse, o outro consegue trabalhar melhor sua proposta e possui mais qualidades.

Infelizmente, Fahrenheit 451 tinha uma grande história para ser contada, mas é desperdiçada. Um entretenimento com uma abordagem interessante, porém sem carisma algum.

Crítica | Fahrenheit 451 (2018)
Fahrenheit 451 (2018) não consegue trabalhar bem seus conceitos políticos e sociais, se tornando mais um genérico futuro distópico. Sua potencial história é desperdiçada, mas o longa possui qualidades técnicas e uma abordagem interessante para os dias atuais.
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