Crítica | Frozen 2

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 07 de dezembro de 2019

Em 2013-2014, Frozen se tornou um dos maiores fenômenos da Disney. Sabendo disso, o estúdio teve uma jogada de mestre para manter a expectativa e memória do público, lançando curtas e especiais da animação. E nesse período, até o lançamento da sequência, os personagens também participaram da série Once Upon a Time. Pois bem: depois de seis anos, eis que a continuação chegou nas telonas, apresentando uma escala maior do universo estabelecido para a franquia.

Ainda que o primeiro filme fosse “redondo”, vários elementos plantados geravam questionamentos, como a origem dos poderes da Elsa – principal ponto abordado por Frozen II. O novo enredo resolve, justamente, responder muitas dessas dúvidas, dando motivos plausíveis para a existência dessa continuação. Revisitar os personagens mostra-se uma grata surpresa, já que existe, em cada um deles, uma energia bastante característica que os tornaram um sucesso. Sabendo disso, os diretores Chris Buck e Jennifer Lee demonstram certa segurança aqui.

Depois de Arendelle ter encontrado a paz, tudo parece normal. Entretanto, Elsa continua com alguns medos e querendo descobrir mais sobre seu passado, envolvendo mistérios sobre seus pais. Inicialmente, para quem acompanhou todos os produtos audiovisuais da franquia, pode se incomodar ao ver a Rainha com dilemas parecidos. Lee, ao lado do roteirista Allison Schroeder, contornam um pouco desse problema ao desenvolver toda a aflição que a consome, como se algo ainda faltasse em seu interior. Sua felicidade, ao lado de Anna, Olaf, Kristoff e Sven, depende dela enfrentar os desafios. Nessa jornada, Frozen II fala perfeitamente sobre o amadurecimento e coragem pelo desconhecido. A Rainha abre mão do lugar de conforto em prol do futuro de Arendelle e, ao mesmo tempo, descobrir quem realmente é.

Se antes Anna era a emoção e Elsa a razão, a sequência decide inverter esses papéis. Todo o carinho, amor e confiança que existe entre as irmãs continua sendo a grande sustentação da trama, e a relação das duas proporciona cenas delicadas. Mesmo que Anna incentive a irmã, existe um receio por parte dela. O roteiro, porém, não explora a jovem individualmente com tanto afinco, dando alguns diálogos que não condizem com o crescimento da personagem. Já Elsa protagoniza momentos ainda mais deslumbrantes e intensos que o clássico “Let it Go”.

No que diz respeito às novas canções, elas apresentam uma boa adequação das letras originais para o português, mesmo que os versos não tenham sido traduzidos de forma literal. Grande parte da trilha sonora possui um tom melancólico, e isso, talvez, não torne-as tão marcantes. De forma alguma isso é prejudicial, pois cada uma funciona no momento em que é inserida. Os destaques ficam para as sequências de “Minha Intuição” e “Vem Mostrar”, ambos da Elsa. É difícil não se arrepiar com essas músicas, que chamam a atenção pela harmonia estética.

Considerando que estamos falando de um filme da Disney, parece até repetitivo ficar enaltecendo os aspectos visuais. Porém, novamente o estúdio consegue surpreender com Frozen II, apresentando um nível impressionante de detalhes na computação gráfica, transformando determinados frames em perfeitas fotografias. Isso é mais notável quando os personagens não estão em cena ou a câmera possui certa distância, deixando os cenários em foco. A Floresta Encantada, por exemplo, não é somente utilizada como pano de fundo para a história, pois seus elementos também ajudam à orquestrar as canções. Assim, o que aparentava ser apenas ambientação, ganha funções narrativas.

No entanto, nem tudo são flores. Para dar conta de explicar tantas questões novas, o roteiro segue o caminho mais fácil de interromper tudo para explicar os fatos através de diálogos muito expositivos. São vários os fatores que necessitavam de mais aprofundamento, já que motivam o andamento do longa. Além disso, como o ponto principal está nas irmãs, outros personagens são deixados de lado. O mais afetado é o Kristoff, que fica completamente perdido no meio da trama. Apesar de ganhar uma hilária música solo, bem ao estilo “Bet on It” do Troy, em High School Musical 2, ele não tem uma função devidamente estabelecida que justifique sua participação. No caso de Olaf, acontece o contrário: o boneco de neve tem sua importância no enredo e continua exercendo perfeitamente sua função de alívio cômico. Muito do resultado se deve ao ótimo trabalho de voz de Fábio Porchat, com ênfase ao momento em que recapitula os eventos do primeiro Frozen.

Assim, voltando ao fato de estarmos falando sobre uma continuação, existe a necessidade comum das indústrias em aumentar a proporção em vários níveis. Frozen II quase se atropela nessa tentativa, faltando um pouco de equilíbrio no projeto como um todo. Pode não ser melhor que o original, mas é essencial para completar a jornada iniciada em 2013. Uma animação carismática, emocionante e poderosa. No encerramento, após a cena pós-créditos, a experiência é gratificante e o “frio não vai mesmo NOS incomodar”.

Crítica | Frozen 2
A sequência expande o universo da franquia com energia e um visual impecável, reforçando o amor fraternal entre Anna e Elsa. Apesar do roteiro não ser totalmente equilibrado, os diretores Chris Buck e Jennifer Lee trabalham o projeto com segurança. Destaque para Olaf, que funciona perfeitamente como alívio cômico.
3.5

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