Crítica | It: Capítulo Dois

Escrito por: Gabriel Santos

em 04 de setembro de 2019

Depois de fazer um excelente trabalho em 2017 com It – A Coisa, o diretor Andy Muschietti retorna com o roteirista Gary Dauberman para concluir a adaptação da obra de Stephen King. Na trama, que se passa 27 anos depois, o Clube dos Perdedores retorna para Derry. Agora eles querem derrotar, de uma vez por todas, Pennywise, o Palhaço Dançarino.

Logo no primeiro ato, somos apresentados às versões mais velhas dos personagens, interpretados por atores de peso. A escolha do elenco, por si só, já é bem interessante, pois todos são fisicamente parecidos com as crianças. Isso é reforçado pela atuação, reforçada por caricaturas dos jovens, onde cada um conta com uma característica marcante, tornando fácil a identificação.

Todo o elenco está muito bem, fazendo com que realmente nos importemos com o grupo, ponto essencial no gênero. James Ransone (Eddie Kaspbrak) e Bill Hader (Ritchie Tozier) são os que mais se divertem com seus personagens, enquanto Jessica Chastain (Beverly Marsh) e James McAvoy (Bill Denbrough) são os responsáveis por introduzir mais carga dramática. Jay Ryan (Ben Hanscom), por representar a versão musculosa de um ex-gordinho, é o que menos se parece com a versão jovem, mas ao mesmo tempo carrega todos os seus dilemas pessoais. Isaiah Mustafa (Mike Hanlon) é um dos mais prejudicados pelo roteiro, se focando mais em reunir e explicar a trama do que explorar seu passado. Já Andy Bean (Stanley Uris), mesmo tendo menos presença fisicamente, tem grande importância para a condução da trama. O destaque também fica para Bill Skarsgard (Pennywise), que não só está assustador visualmente, como também pela intimidação e persuasão diante de suas vítimas – que são muitas. Ele se consagra de vez como um dos vilões mais icônicos do cinema, garantindo um lugar especial em nossos pesadelos. O elenco infantil também está de volta em forma de flashbacks, seja em cenas que já vimos ou em novas, onde é possível perceber que os atores estão um pouco mais velhos.

O longa resolve bem a divisão de tela de cada personagem, separando-os em trios, duplas, além de passar uma sensação nostálgica de reencontro quando estão todos juntos. Ainda há tempo de desenvolvê-los isoladamente, explorando o medo de cada um, como acontece no primeiro filme. Apesar de parecer cansativo inicialmente, todas as sequências são inventivas e interessantes, sempre tendo algo para acrescentar. O terror está muito bem representado, garantindo cenas inquietantes, perturbadoras e explicitamente violentas. Os pesadelos estão em maior quantidade e ainda mais carregados em efeitos visuais. Porém, felizmente, críveis na interação com ambiente e personagens.

É possível afirmar que praticamente todas os momentos do antecessor são revisitados, mas nunca de forma gratuita, sempre fazendo sentido na trama. Há um belo trabalho feito para que o público se sinta novamente em Derry, passando pelas mesmas locações e utilizando os mesmos planos. Também vale destacar a excelência técnica nas transições, fazendo com que o filme flua entre passado e presente com maestria.

Um dos aspectos de extrema importância é o som, sendo usado de maneira diferente para cada fim. Nas cenas de ação, com conflitos físicos, ele deixa os golpes mais impactantes e fortes. A música incidental também é bem pontuada para construir suspense, a devida atmosfera sinistra, além de, claro, jumpscares – que funcionam.

Um dos pontos que distingue as duas produções é a temática deste ser abordada de forma mais dura e pesada. Entre os assuntos debatidos estão homofobia e violência doméstica, mostrando que os personagens também passam por questões reais e presentes na nossa sociedade.

Os problemas começam a aparecer durante o terceiro ato, com a batalha final entre o Clube dos Perdedores e Pennywise. Apesar de ser – surpreendentemente – um evento grandioso e épico, a sequência dura mais tempo do que deveria, se tornando cansativa. Isso também se deve à duração do longa de quase três horas, assim como a quantidade excessiva de pesadelos. Talvez seria justo dividir o segundo longa em duas partes ou terminá-lo de maneira menos ambiciosa.

It: Capítulo Dois é uma conclusão divertida e assustadora da história que começamos a acompanhar em 2017. Ele funciona como uma mesma unidade graças ao trabalho conjunto de toda equipe e elenco. Com a pretensão de ser algum tipo de Ultimate Nightmare Movie, lhe rende momentos icônicos que certamente ficarão marcados na história do cinema.

Crítica | It: Capítulo Dois
It: Capítulo Dois se destaca pela variedade de sequências aterrorizantes, explorando os medos de todas as formas possíveis. Os personagens cativantes ganham mais camadas com os novos intérpretes, assim como Pennywise, que está mais assustador.
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