Crítica | Malcolm & Marie

Escrito por: Gabriel Santos

em 17 de fevereiro de 2021

Depois do sucesso de Roma, a Netflix continua produzindo filmes de arte com a estética em preto e branco, como Mank e o mais recente Malcolm & Marie. O último possui direção e roteiro de Sam Levinson, conhecido por Euphoria, e tem no elenco a dupla Zendaya e John David Washington. O projeto acompanha uma longa discussão entre um cineasta e sua namorada depois da estreia de seu filme, trazendo questões sobre a indústria de Hollywood e o próprio relacionamento dos dois.

Malcolm & Marie é muito bem produzido tecnicamente, incluindo sua estética minimalista e a bela fotografia em preto e branco. Toda a história acontece em uma única locação, que é bem explorada através de planos-sequências bem coreografados, sendo sustentada por apenas dois personagens. Também há um uso satisfatório da música diegética, que preenche as cenas dando o tom pretendido. Porém, a história começa a pesar negativamente quando vamos para os personagens.

Malcolm, o personagem de John David Washington, é um cineasta egocêntrico, insensível, arrogante e explosivo. Ele foi escrito de uma forma que fica díficil criar algum tipo de vínculo, restando apenas antipatia. Por outro lado, ele é responsável por trazer indagações válidas sobre a indústria, como a relação entre um diretor negro e filmes políticos, além da autenticidade de um longa.

Já Marie, vivida por Zendaya, começa o longa um pouco apática, até que confronta o namorado a partir de coisas que a incomodam, desde o filme até o relacionamento. A atriz está excelente no papel, com uma atuação impactante e que foge do óbvio. Por exemplo, ao invés de cenas de choro exageradas para comover o público, é bem mais forte quando a vemos se segurar para não chorar. E o diretor sabe valorizar esses momentos, como em cenas onde Malcolm está falando, mas a câmera foca na reação de Marie.

O filme é recheado de brigas intensas que revelam mais da intimidade do casal, passando a ideia de ser algo verídico. Por outro lado, também há monólogos e sequências que se assemelham a uma peça de teatro e deixam a trama mais “falsa”, pois não seria como pessoas realmente falariam ou agiriam. Outro incômodo é a constante exposição de eventos anteriores para o público, assim como a incoerência das discussões, pois os personagens brigam gravemente e depois fazem as pazes várias vezes durante um curto período de tempo.

Conforme os eventos se desenrolam, fica a sensação de que o filme de quase duas horas não consegue ser sustentado apenas por dois personagens em casa. Mesmo com defeitos, ainda vale a pena conferir o projeto pela atuação de Zendaya e os questionamentos sobre a sétima arte, desde sua produção até a recepção da crítica.

Crítica | Malcolm & Marie
O longa de Sam Levinson é muito bem produzido, destacando-se pela atuação de Zendaya e discussões sobre cinema, mas não consegue se sustentar nas quase duas horas de duração.
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