Crítica | Modo Avião

Escrito por: Gabriel Santos

em 11 de fevereiro de 2020

Em 2019, a Netflix anunciou que havia fechado um contrato com a famosa atriz teen Larissa Manoela para três filmes. O primeiro fruto da parceria é Modo Avião, que chegou ao serviço de streaming no final de janeiro e discute o vício nas redes sociais. Adaptado do roteiro do mexicano Alberto Brener, a trama acompanha a influencer Ana (Larissa Manoela) que, após causar um acidente de trânsito porque estava no celular, é obrigada a passar um tempo com o avô Germano (Erasmo Carlos), no interior da cidade.

Larissa interpreta um papel que se confunde com sua vida real, já que a atriz também é uma digital influencer. Por conta disso, ela consegue viver a protagonista de maneira natural, ficando muito à vontade no papel. Já Erasmo Carlos é uma peça fundamental na história e entrega uma atuação convincente como o velho resmungão e carrancudo, mas que vai amolecendo e se abrindo aos poucos. Outro destaque do elenco é Katiuscia Canoro como um alívio cômico muito bem-vindo.

Um dos grandes méritos da produção está na sua integração com o mundo das redes sociais. É possível notar, a todo momento, fotos, vídeos, mensagens e notificações pipocando na tela, mostrando o que os personagens estão fazendo em seus smartphones, ajudando a contar a história. A montagem dinâmica com jumpcuts também é eficiente em trazer a linguagem da internet para o filme.

Não apenas visualmente, o longa de César Rodrigues ainda discute o mundo das celebridades virtuais e alerta sobre a forma como as empresas manipulam a vida dos influenciadores e passam a pensar por eles. Outra questão levantada é a falta de originalidade e a constante luta para se manter relevante, com foco no mundo da moda. Todas essas temáticas são introduzidas já nos primeiros 20 minutos, quando somos apresentados ao mundo da protagonista, e a produção mostra que sabe falar “millennial” fluentemente.

Após conhecermos esse universo, na segunda parte da trama temos os contrastes da vida no campo e na cidade, onde a relação entre avô e neta é desenvolvida de forma bem bonita e divertida, já que os dois representam opostos. Por outro lado, mesmo que os atores tenham química, é possível notar uma artificialidade nas interações, por soarem muito expositivas. O roteiro é melhor resolvido através das ações e não das falas, pois é comum os personagens dizerem coisas que não diriam na vida real, apenas para explicarem algo da trama.

O segundo ato do longa é apresentado de forma lenta e calma, refletindo o estilo de vida no campo. Porém, o clímax sofre com resoluções de conflito de maneira apressada. Com isso, as questões são resolvidas de forma muito fácil, perdendo o peso narrativo, enquanto outras são tratadas de forma superficial.

Modo Avião é um daqueles filmes “água com açúcar”, bem leve e que, claramente, foi feito para o público jovem. Ele traz discussões atuais sobre como as relações pessoais mudaram e como isso pode ser prejudicial. Mesmo bem intencionado, o roteiro poderia ser melhor resolvido e a trama menos óbvia. Quem sabe não vemos Larissa Manoela em um papel mais “fora da caixa” nas próximas parcerias da atriz com a plataforma?

Crítica | Modo Avião
A primeira parceria entre Larissa Manoela e Netflix aposta seguro, com uma trama voltada para o público jovem e com discussões atuais. O destaque fica para a representação das redes sociais e a linguagem “millennial”.
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