Crítica | O Homem Invisível

Escrito por: Gabriel Santos

em 27 de fevereiro de 2020

O Homem Invisível surgiu pela primeira vez em 1897, como um romance de H.G. Wells. Desde então, a história foi adaptada diversas vezes para diferentes mídias, incluindo cinema, televisão, rádio e teatro. Dentre todas elas, a versão deste ano, escrita e dirigida por Leigh Whannell, se diferencia pela ousadia e atualização do personagem. O novo olhar sobre o clássico é muito competente ao retratar um relacionamento abusivo, onde Cecilia (Elisabeth Moss) é assombrada pelo ex-marido, mesmo depois de morto. Há muitos motivos para o público acreditar que este é um filme de terror, como os materiais promocionais e o nome de Whannell, que já trabalhou nas franquias Sobrenatural e Jogos Mortais. Porém, vale avisar que a obra está mais para um suspense – e isso não é ruim. Temos aqui um forte candidato a melhor suspense do ano.

Um dos principais méritos do longa é seu caráter imersivo, que nos prende desde a cena de abertura. Nela, acompanhamos Cecilia tomando todo o cuidado ao fugir de casa para que o marido não a perceba. Aqui, qualquer mínimo ruído é muito alto – destaque para a mixagem de som -, o que lembra a proposta de Um Lugar Silencioso. No decorrer da trama, a atmosfera aflitiva e a sensação de que há algo de errado permanecem, principalmente pelo fato da protagonista ser cismada com tudo. Com isso, ela passa para o público sua inquietação, deixando a gente tão nervoso quanto ela. Isso é construído aos poucos, sem pressa e sem jumpscares. Aliás, às vezes nem tem nada de errado, mas o que importa é como o filme te convence de que tem. Claro que, apesar das formas criativas para retratar o Homem Invisível, há também alguns truques batidos, como a clássica puxada de coberta. É possível notar semelhanças com Atividade Paranormal, por exemplo, como em enquadramentos onde a câmera registra a ação – ou não ação – de forma observadora, na maioria das vezes estática.

Como já era de se esperar, a grande estrela do longa é Elisabeth Moss. O próprio diretor comentou que este é “o show de uma mulher só“, e realmente é o que acontece. Sua personagem é cativante desde a cena inicial, a ponto de nos fazer torcer por ela e tentarmos alertá-la dos perigos. A atriz não apenas reage aos acontecimentos com medo, como também transmite toda angústia que é viver dessa forma constantemente, após passar por um trauma. Sua fisionomia desgastada e sofrida, ressaltada pela maquiagem, intensifica-se gradativamente, até parecer totalmente perturbada. As sequências em que interage com o Homem Invisível são impressionantes, principalmente se levarmos em conta que ela faz tudo sozinha e é bem convincente. É interessante como a produção cria a dúvida se tudo o que vemos realmente está acontecendo ou é apenas na cabeça da protagonista, já que estamos tão inseridos na mente dela. Em um determinado momento, o longa deixa isso de lado e opta por um caminho, mas bate a curiosidade de saber como seria se optasse pelo outro. Ou seja, muito cuidado com spoilers.

O elenco coadjuvante também funciona muito bem narrativamente, principalmente como suporte na vida da protagonista. James (Aldis Hodge) faz o papel de amigo que tenta protegê-la e mostrar que está tudo bem, Sydney (Storm Reid) é quem injeta a carga de animação que Cecilia precisa, enquanto Alice (Harriet Dorman) atua como um apoio emocional. Ainda temos Tom (Michael Dorman), que representa sua conexão com o ex, movimentando bem a trama. Já o próprio Adrian (Oliver Jackson-Cohen), que seria o Homem Invisível, quase não aparece na trama, mas é o suficiente para sentirmos antipatia por ele.

Outro ponto positivo vai para a trilha sonora inquietante de Benjamin Wallfisch, que conta com muitas nuances, variando de sons graves e potentes a um violino frenético para representar o perigo. Ela também aparece para construir cenas melancólicas ou dar mais urgência aos acontecimentos. Ainda há momentos em que sua trilha não está presente, e sua ausência é tão poderosa quanto.

Por todos esses motivos apontados acima, O Homem Invisível é um daqueles filmes imperdíveis, principalmente para quem curte o gênero. Com um show de atuação – que merece ser lembrada na temporada de premiações -, um conceito inovador para a obra e sequências agoniantes, o suspense é um dos destaques do ano.

Crítica | O Homem Invisível
O suspense de Leigh Whannell é competente ao apresentar uma versão atualizada e inovadora da obra de H.G. Wells. O destaque vai para a atuação de Elisabeth Moss, que carrega o filme nas costas.
4.5

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