Crítica | Soul

Escrito por: Gabriel Santos

em 27 de dezembro de 2020

Atualmente, a Pixar é uma das principais referências quando o assunto é storytelling. O estúdio de animação da Disney nos presenteou em 2020 com Dois Irmãos, uma história íntima que explora o gênero de fantasia, e no fim do ano ainda deu tempo de lançar Soul no streaming, com uma proposta ousada e complexa: abordar a vida após a morte. O projeto é comandado por Pete Docter, a mente responsável por Monstros S.A.Up: Altas Aventuras e Divertida Mente, então já era de se esperar que o resultado teria muita qualidade. Na trama, o professor de música Joe Gardner consegue a chance da sua vida, mas acaba morrendo em um acidente. Agora, sua alma precisa encontrar um jeito de voltar para seu corpo.

Assim como Divertida Mente explora o funcionamento do nosso cérebro de forma lúdica e bem-humorada, simplificando conceitos muito complexos, o mesmo acontece aqui. Nesse caso, o longa se propõe a explicar o que acontece com as almas depois que morremos, pensando em praticamente tudo. Por exemplo, no “pré-vida” conhecemos como surgem as vidas, como as personalidades são formadas, entre outros detalhes. O mundo criado conta com uma representação visual bem interessante, partindo de formas abstratas e uma atmosfera onírica. E o mais legal disso tudo é que o momento de apresentação desse mundo não é apenas contemplativo, pois acontece ao mesmo tempo em que a trama é desenvolvida, servindo à história.

Já os seres chamados de “Zés/Jerrys” têm inspiração em esculturas de arames, formados por apenas uma única linha, resultando em formas simples, mas com personalidade, em um belo trabalho de design de personagens. O visual do “mundo real”, em Nova York, também impressiona pela fotografia e a preocupação com os mínimos detalhes, seja na textura das roupas ou até mesmo no suor. É o padrão Pixar de qualidade que já estamos acostumados nas animações do estúdio.

O som é um elemento muito importante na trama. O próprio Soul do título remete à “alma” em inglês e ao gênero musical. Portanto, a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross é um espetáculo à parte, assim como as composições e os arranjos de Jon Batiste. Todo o longa é um prato cheio para os fãs de jazz, com uma excelente captação dos sons dos instrumentos.

Joe Gardner faz história na Pixar por ser o primeiro protagonista negro de um longa-metragem do estúdio, e está muito bem representado. Seu amor por jazz é evidente e todo o mundo ao seu redor é palpável, desde as interações no metrô, escola ou barbearia. A maior dinâmica que o filme apresenta é entre Joe e 22, uma alma rebelde que não tem interesse em viver. Os dois são praticamente opostos e o roteiro sabe explorar a relação da dupla para contar sua história a partir de suas motivações.

Para quem assistiu ao trailer de Soul e gostou, saiba que o filme ainda possui surpresas bem-vindas, a partir de um roteiro redondo, emocionante e reflexivo sobre nosso propósito no mundo. É uma história que consegue simplificar temas complexos de forma didática e, definitivamente, não é uma animação somente para crianças. Com essa obra, a Pixar consegue superar nossas expectativas mais uma vez, entregando o melhor filme de 2020.

Crítica | Soul
A animação da Pixar consegue simplificar um tema complexo através de uma história reflexiva, emocionante e cativante.
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