Crítica | Tenet (Sem spoilers)

Escrito por: Gabriel Santos

em 26 de dezembro de 2020

Em suas obras, o cineasta Christopher Nolan sempre gostou de trabalhar com o conceito de tempo. Em Amnésia, tivemos uma cena de abertura ao contrário, enquanto há uma dinâmica com a percepção da duração do tempo em A Origem e Interestelar. Os exemplos de como Nolan se interessa por enredos complexos e sempre procura se reinventar – entregando sequências grandiosas e intrigantes – são vários, e Tenet é mais uma de suas obras-primas. Mesmo com um ano difícil para o cinema por conta da pandemia de COVID-19, ainda foi possível proporcionar a maior experiência cinematográfica de 2020.

O roteiro do longa, assim como em outros filmes de Nolan, não é simples. Pra falar a verdade, ele é bem complexo – tive que assistir duas vezes, por exemplo, pois da primeira não tinha entendido muita coisa. Inspirado por tramas de espionagem, a história acompanha o Protagonista, um agente que precisa impedir a Terceira Guerra Mundial, que não será nuclear, e sim temporal.

O projeto parte de um conceito bem intrigante – e maluco – que, a princípio, pode ser comparado com viagem no tempo, mas tem a ver com inversão de entropia, onde o futuro pode se comunicar com o passado. Os filmes de Nolan têm o costume de separar um momento para explicar o que está acontecendo para o público, mas aqui é feito de forma diferente. Os personagens ainda esclarecem os conceitos ao longo da história, conforme as questões aparecem, só que de maneira mais dinâmica e menos expositiva. Na verdade, o próprio longa diz que não é preciso entender o que está acontecendo, e sim sentir. E realmente nem tudo é explicado, assim como há coisas que talvez não façam tanto sentido.

Um dos maiores atrativos de Tenet são as sequências de ação, inventivas, surpreendentes e complicadas. É impressionante o fato de que tudo é feito usando efeitos práticos, desde perseguições, coreografias de luta e explosões. Porém, o que mais chama atenção são aquelas em que vemos ações no sentido normal e inverso ao mesmo tempo na tela. É comum o espectador se pegar perguntando como elas foram filmadas, pois vemos coisas que ainda não foram feitas no cinema. Ao mesmo tempo, elas remetem às primeiras experimentações da sétima arte, feitas pelos Irmãos Lumiere, que é o ato de retroceder uma ação filmada. Aqui, isso é explorado das mais diferentes formas em um belíssimo espetáculo visual, acompanhadas pela trilha sonora original de Ludwig Goransson, que também brinca com melodias tocadas ao contrário e são essenciais para dar ritmo e emoção ao filme. Inclusive, as 2h30 passam rápido graças à trama em constante movimento, sempre nos apresentando novos elementos estimulantes.

Sobre os personagens, a maioria fica em segundo plano, funcionando apenas como peças para mover a trama. Não conhecemos muito sobre os agentes vividos por John David Washington e Robert Pattinson, onde o primeiro funciona como nossos olhos para o mundo que nos é apresentado, enquanto o segundo é responsável por explicá-lo. Por outro lado, Kat (Elizabeth Debicki) é quem cria maior empatia com o público, convencendo como uma mãe preocupada com o filho e pelas cenas desconfortáveis ao lado do marido controlador, Sator (Kenneth Branagh).

Tenet pode soar um pouco confuso às vezes, e por isso requer 100% da atenção do espectador, rendendo discussões e teorias posteriores. É inegável que há muita bagagem científica por trás do conceito proposto, pensando em todos os detalhes para que tudo aconteça de forma coerente. O longa só foi possível a partir da experiência de Nolan com seus projetos anteriores e sua busca constante em criar obras grandiosas e fora da caixa, deixando, mais uma vez, sua marca na história do cinema.

Crítica | Tenet (Sem spoilers)
Com uma trama intrigante e sequências de ação grandiosas e complexas, o longa leva as histórias de espionagem para um novo nível, com o padrão de qualidade dos filmes de Nolan.
4.5

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