Crítica | The Old Guard

Escrito por: Gabriel Santos

em 24 de julho de 2020

Uma equipe de mercenários liderada por uma pessoa experiente e com um passado misterioso tem a missão de resgatar um grupo de crianças em um país estrangeiro. É assim que começa The Old Guard, o novo filme original da Netflix. Familiar? Pois é, os primeiros 20 minutos da produção me soaram genéricos e estranhamente parecidos com Resgate, estrelado por Chris Hemsworth. Porém, mesmo com as premissas similares, o longa logo se reinventa e surpreende com uma de suas principais particularidades ao explorar a imortalidade de forma muito satisfatória, mostrando que é mais do que um simples filme de ação.

Dirigido por Gina Prince-Bythewood, o projeto é baseado na HQ homônima da Image Comics, ilustrada por Leandro Fernández e escrita por Greg Rucka – que também assina o roteiro. Na trama, The Old Guard é um grupo de imortais que realiza missões pelo mundo ajudando a humanidade. Enquanto mantém seu segredo escondido das pessoas, conta com o desafio de recrutar uma nova integrante. A ideia é muito interessante, pois pega um conceito amplamente explorado em diferentes histórias, mas ainda encontra um caminho que deixa a trama atrativa e original.

Um dos pontos que vale ser ressaltado é a maneira como o filme permite que esses personagens, a princípio vistos como deuses, ainda demonstrem humanidade e não sejam completamente invencíveis. Ao mesmo tempo, enquanto é instigante ver pessoas com centenas ou milhares de anos se adequando aos tempos atuais, os flashbacks aguçam a curiosidade do público para acompanhá-los em outros períodos históricos, abrindo infinitas possibilidades para continuações, seja avançando na trama ou através de prequels.

O longa é estrelado por Charlize Theron, que mais uma vez manda bem como heroína de ação, assim como em Mad Max: Estrada da Fúria e Atômica. Neste caso, além da atitude badass, o destaque vai para a variedade de armas que sua personagem, Andy, usa – desde armas de fogo até espadas e machados (inclusive mais de uma ao mesmo tempo). Mesmo sendo a protagonista, o filme não a desenvolve exclusivamente, explorando muito bem o passado dos outros membros da equipe: Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli) – cada um com suas particularidades. O entrosamento e a conexão do time também convence, tanto nos momentos de união quanto nos conflitos.

No elenco ainda temos Kiki Layne, que vive a recruta Nile e tem muita química com Theron. Por ser a novata, é ela quem introduz este universo ao público, respondendo perguntas sobre como a imortalidade funciona e todos os desafios que surgem com essa habilidade, como o fato de que todas as pessoas que conhece vão morrer antes de você. Graças ao roteiro bem amarrado, tudo acontece de forma muito natural e pouco expositiva. Entre os vilões, a trama acaba indo pro caminho mais óbvio, onde um grupo de cientistas quer estudar e entender os poderes, mas posso dizer que o filme faz um belo trabalho em apresentar diferentes lados e motivações.

A ação também é um dos pontos fortes, com destaque para o combate corpo a corpo e para menos sequências grandiosas. Há uma extensa variedade de armas utilizadas, misturando recursos de diferentes épocas, como espadas medievais e metralhadoras. As equipes de efeitos visuais e maguiagem fazem um trabalho competente para garantir que a regeneração convencesse, sendo possível sentir a dor de cada osso quebrado e fratura exposta.

The Old Guard tem todos os elementos de um blockbuster de ação, apresentando uma aventura ambientada em vários lugares do mundo e que vai ficando cada vez mais interessante conforme é aprofundada. Além das habilidades dos personagens, ele também se diferencia da maioria das produções do gênero pela diversidade, vista não só no elenco como também na equipe, incluindo a própria Gina Prince-Bythewood, a primeira mulher negra a dirigir um filme de quadrinhos e um blockbuster da Netflix. O projeto é, claramente, mais uma tentativa do serviço de streaming emplacar uma franquia – e, se for depender da recepção e das possibilidades que o longa cria, uma sequência é praticamente certa.

Crítica | The Old Guard
O longa se destaca pela forma como explora a imortalidade, ficando cada vez mais interessante à medida que se aprofunda no tema. Charlize Theron mais uma vez se consagra como atriz de ação, deixando o público com vontade de uma sequência.
4.5

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