Crítica | Yesterday

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 27 de agosto de 2019

De tempos em tempos, as produções cinematográficas trazem diferentes propostas. Considerando que vivemos em uma época do “boom” das adaptações, remakes e spin-offs, trazer originalidade ou novidade chama a atenção. No caso de Yesterday, a premissa simples desperta o interesse: e se os Beatles nunca tivessem existido, havendo apenas uma única pessoa no mundo que lembrasse das músicas? Independentemente de ser fã ou não do grupo, o diretor Danny Boyle e o roteirista Richard Curtis sabem do potencial dessa ideia para o público, aproveitando-a com bastante criatividade.

Boyle e Curtis utilizam a imagem marcante dos Beatles como base, brincando com a absurdidade da circunstância, mas não se apoiam apenas nisso. Mesmo que as canções sejam importantes, ganhando boas versões na voz de Himesh Patel, a verdadeira essência do longa é uma mistura de fantasia com comédia romântica. Acaba que, positivamente, o roteiro utiliza a banda como ótima desculpa para embalar a história de Jack (Patel), que passa por várias situações de crescimento pessoal e coragem para se expressar. Como praticamente tudo é bem idealizado, isso agradará tanto ao espectador que deseja apenas assistir a um filme leve (com excelentes pitadas de drama), quanto ao que foi atraído pela temática.

Como em Feitiço do Tempo ou A Morte Te Dá Parabéns, o acontecimento principal não tem uma explicação lógica, funcionando como se o universo quisesse dar alguma lição ao protagonista. Jack tem problemas com a família, medos e não sabe lidar com os sentimentos. Assim, quando a “força do destino” age depois de seu acidente, ele passa por uma jornada de autodescoberta. Essa fórmula parece batida, porém, o que gera os bons resultados de longas como esse é justamente saber como aproveitá-la. O roteiro vai muito além do que se propõe, demonstrando qualidade no desenvolvimento. Mesmo o humor não sendo efetivo em todos os momentos, a força está nessa criatividade (destaque para a hilária pesquisa no Google) e na maneira em que a técnica se une à toda proposta. Um exemplo claro é a mixagem de som, que cresce e acompanha Jack conforme ele se desenvolve musicalmente.

A relação dele com Ellie (interpretada pela sempre carismática Lily James) também funciona, pois não é tratada com superficialidade ou poucas explicações, conseguindo fazer com que o espectador sinta empatia pelo casal. As questões do filme não são resolvidas com rapidez, ganhando alguns contornos surpreendentes, emocionantes e também divertidos. É preciso destacar que o andamento da trama também dependeu da boa montagem das cenas, compondo então um resultado dinâmico.

Quaisquer outros detalhes podem estragar a experiência, já que muito do resultado depende das surpresas apresentadas na história. Porém, vale dizer que Kate McKinnon continua engraçada como sempre, apesar de não fugir da própria personaDeborah, sua personagem, tem momentos que adicionam comicidade no longa. Interessante é a participação de Ed Sheeran, que mesmo interpretando a si mesmo, cria uma figura caricata que brinca com a própria imagem do cantor. O elenco se tornou peça essencial para a efetividade do projeto.

Sabendo muito bem como entreter o público, Yesterday é uma deliciosa fantasia musical. Mais que um filme com as músicas dos Beatles, é uma história sobre amor próprio e acreditar em si mesmo. A parceria de Boyle e Curtis mostra o talento de dois ótimos contadores de histórias. De alguma forma, sempre “haverá uma resposta” no meio do caminho.

Crítica | Yesterday
O diretor Danny Boyle e o roteirista Richard Curtis criam uma deliciosa fantasia musical. Indo muito além da proposta, o roteiro é desenvolvido com criatividade e traz efetivos contornos dramáticos. Uma experiência que vai agradar tanto aos fãs dos Beatles, quanto aos amantes do bom entretenimento.
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