O que as indicações do SAG nos dizem sobre o Oscar?

Escrito por: Jose Gabriel Fernandes

em 13 de dezembro de 2018

O ano está acabando… mas a temporada de premiações só acabou de começar! Na manhã de ontem (12), as indicações do Screen Actors Guild Awards (“premiação do Sindicato dos atores de Hollywood”) foram anunciadas e, com elas, a cerimônia do Oscar começa a ser efetivamente desenhada.

Sim, o Globo de Ouro também é uma premiação influente, mas devemos lembrar que os indicados ao Oscar são selecionados por trabalhadores da indústria cinematográfica – os mesmos que votam nas premiações de sindicatos, como a do SAG.

Vale adicionar que maior parte dos votantes é composta por atores (cerca de 20%, segundo a Variety), então o SAG é um termômetro forte para o Oscar, não só nas categorias de atuação, mas de melhor filme também. A tendência é que, dos indicados a melhor elenco (a principal honraria da premiação), pelo menos três concorram a “melhor filme” no Oscar. Lembrando também que na última edição, com A Forma da Água, foi a primeira vez em 20 anos que um filme sem indicação de melhor elenco no SAG ganhou o Oscar (antes desse foi Coração Valente). Então, é provável que o vencedor do Oscar de 2019 já esteja entre os cinco concorrentes a melhor elenco da premiação do sindicato.

Tudo isso para dizer que o SAG, ao lado do PGA e o DGA (sindicatos dos produtores e diretores, respectivamente), ainda é uma das maiores prévias do que veremos em fevereiro de 2019, e suas indicações praticamente confirmaram e invalidaram certos cenários que estavam sendo previstos. Vale repassar aqui alguns dos principais. Se quiser dar uma olhada em quem está concorrendo antes, clique aqui.

1. Pantera Negra consolidado na corrida e com chances de ganhar

Critics Choice Awards e o Globo de Ouro reconheceram o filme da Marvel como um dos melhores do ano. Só falta ver se a Academia, com sua resistência histórica a filmes de super-heróis (a esnobada que deram ao Cavaleiro das Trevas em 2009 dói até hoje), também entrou no hype.

Considerando que, na última edição, quem levou foi uma produção sobre um homem-peixe, é justo dizer que a Academia tem visto com bons olhos histórias que fogem do padrão Uma Mente Brilhante e O Discurso do Rei (para não ser injusto, ainda lembro da vitória de O Retorno do Rei, mas aquela foi uma exceção).

Tudo isso estava pavimentando o caminho de Pantera Negra para o Oscar, mas a indicação ao SAG de melhor elenco praticamente confirma isso: a produção vai ser indicada a melhor filme.

Agora a questão é saber se o filme do herói pode realmente ganhar. Se levar o prêmio de melhor elenco no SAG (o que é provável, considerando a concorrência), os fãs da Marvel já podem ficar bem animados. Só não recomendo que Kevin Feige abra espaço na estante ainda, porque:

1. Ainda faltam as indicações do PGA (apesar de ser muito difícil deles não reconhecerem Pantera Negra, visto que já indicaram Deadpool e Mulher-Maravilha).

2. É importante que Ryan Coogler seja indicado a melhor diretor, o que não vai ser fácil, dada a concorrência. Ele vai ter que disputar uma das duas últimas vagas com Adam McKay (Vice), Yorgos Lanthimos (A Favorita) e Peter Farrelly (Green Book). Mas, hey, um passo de cada vez. DGA ainda vem aí para aumentar (ou diminuir) nossas esperanças.

3. Olhar próximo tópico

Mas o importante é que Pantera Negra está dentro, tornando-o virtualmente o primeiro filme de super-herói indicado a melhor filme no Oscar. Como diria Érico Borgo: “que tempo para ser nerd, meus amigos!”

2. Nasce uma Estrela vem aí como um furacão

Já sabíamos que a estreia na direção de Bradley Cooper seria a queridinha da temporada de premiações (suspeita que tem se confirmado nas últimas semanas). O que não sabíamos é que o filme teria moral ao ponto de conseguir ser indicado ao SAG de melhor elenco – ainda que não seja um filme de elenco.

Tudo bem, tinha gente prevendo isso, mas para o autor que vos fala é muito difícil de entender. Nasce uma Estrela é comparável a La La Land (que não foi indicado a elenco, mesmo sendo favorito), com seus dois protagonistas fazendo a festa. Tudo bem que o Sam Elliott foi um destaque, e ele foi devidamente reconhecido, mas um nome a mais não deveria revertê-lo ao status de filme de elenco. Onde está Viúvas? E A Balada de Buster Scruggs?

Não sei, para mim isso soa mais como uma forma de dizer que Nasce Uma Estrela é carta marcada para o Oscar de melhor filme. Agora resta saber se vai se manter o favorito até o fim ou vai dar uma de Três Anúncios para um Crime e bater na trave. Adicionando que dificilmente vai ser o melhor elenco do SAG, tendo que enfrentar títulos como Pantera Negra, onde há destaque para todos os atores, e não só dois.

3. Infiltrado na Klan está firme e forte

A última produção do diretor Spike Lee fez muito sucesso em Cannes, já gerando um burburinho quanto ao Oscar. Mas parece que com a chegada de títulos como Nasce uma EstrelaRomaSe a Rua Beale FalasseGreen Book e outros competidores de peso, o filme foi perdendo o destaque nas conversas, ainda que nunca tenha saído da corrida. Isso somado ao fato de que a Academia tem um histórico de esnobar Lee em seus melhores trabalhos, como Faça a Coisa Certa e Malcolm X (receberam indicações, mas não de filme e direção). Então, sua força na temporada de premiações era desconhecida… até ontem.

As três indicações que recebeu, uma delas sendo a de elenco, praticamente garantem o seu espaço na disputa pelo prêmio de melhor filme. As indicações a melhor direção para Lee em diferentes premiações (Critics‘ e o Globo de Ouro, inclusive) ajudam a colocá-lo ao lado de Cooper e Cuaron como um dos favoritos nessa categoria. Tudo bem, McKay e Farrelly também conseguiram esse feito, mas chegaram na corrida um pouco depois e nenhum tem a indicação ao SAG de melhor elenco, mostrando que seus filmes não são tão fortes quanto Infiltrado na Klan. E, convenhamos: já está mais do que na hora de um filme de Lee ser reconhecido pela Academia em suas duas categorias principais. Pode ser que os votantes finalmente tenham percebido isso.

Ainda assim, as indicações de atuação para John David Washington e Adam Driver ainda não são apostas certas. Suas categorias (principalmente a de ator principal) estão muito disputadas. Se a Academia quiser adicionar Ethan Hawke (First Reformed) e Michael B. Jordan (Pantera Negra), é provável que eles saiam. Mas ainda temos que esperar para ver os seus resultados nas próximas premiações. Uma vitória de um deles pode mudar esse cenário.

4. Emily Blunt caminha para a sua primeira indicação ao Oscar

Um nome que está em quase todas as listas de “grandes atores que nunca foram indicados ao Oscar” é Emily Blunt. Apesar do histórico de trabalhos incríveis, a britânica nunca conseguiu emplacar na maior premiação do cinema. Já ganhou Globo de Ouro, já foi indicada ao SAG e ao BAFTA, mas nunca ao Oscar. Porém, parece que isso está prestes a mudar.

Aí você pode perguntar como sua presença no SAG vai ajudá-la agora, se não ajudou no passado. Bom, ela nunca foi indicada duas vezes, por dois filmes diferentes, em duas categorias bem menos disputadas do que o comum. Tanto a de melhor atriz quanto a de melhor atriz coadjuvante têm espaço para um quinto nome, então as chances de Blunt aparecer numa dessas são consideráveis. Nas duas? Nem tanto.

Se fosse para apostar agora, eu diria que ela vai ser indicada a melhor atriz principal por O Retorno de Mary Poppins, filme que tem ganhado muita força nessa temporada. Quanto ao seu papel em Um Lugar Silencioso, eu diria que não vai ao Oscar, porque:

1 – Não sei se pode ser tão facilmente visto como coadjuvante, sendo ela o centro da trama (entrando num cenário Kate Winslet em O Leitor, só que menos favorável).

2- Bem próximas de Blunt, estão Claire Foy (O Primeiro Homem) e, talvez, Margot Robbie (cuja indicação ao SAG por Duas Rainhas foi a mais surpreendente, dada a sua ausência nesta temporada) disputando pelo quinto lugar.

Sem falar que a não-indicação de Regina King (Se a Rua Beale Falasse) aqui não afeta muito o seu espaço no Oscar, apesar de tornar sua vitória, que era uma aposta certa, menos provável. O que nos leva ao próximo ponto…

5. Será que é a vez da Amy Adams?

Amy Adams, cinco vezes indicada, mas 0 vitórias… Será que a Academia está querendo mudar isso? Seu papel coadjuvante em Vice tem arrancado elogios, e sua presença nas premiações mais importantes é uma realidade. Porém, a favorita nessa categoria era Regina King, por Se a Rua Beale Falasse, desde o início. Sua ausência no SAG torna o cenário um pouco mais incerto, abrindo espaço para uma nova favorita. Por mais que Emma Stone ou Rachel Weisz (as duas por A Favorita) possam se sobressair, acho mais provável que a Academia queira, finalmente, homenagear Adams, após a esnobada que ela levou em 2017 por A Chegada. Conhecendo a Academia, não seria improvável.

6. Bohemian Rhapsody para melhor filme???

Tudo bem, a esta altura, a indicação de Rami Malek, pelo seu notável desempenho como Freddie Mercury, já é um fato. Mas será que, com essa indicação a melhor elenco no SAG, a cinebiografia pode concorrer a melhor filme no Oscar?

A indicação a melhor drama no Globo de Ouro pareceu uma atitude isolada da premiação, mas agora, com o SAG, a possibilidade do filme ir para a principal categoria do Oscar não é tão remota assim.

Mas, esperemos. Eu ainda diria que é muito improvável, considerando a recepção da crítica. Sem falar que é característico do SAG indicar um ou dois filmes que se destacam pelo elenco mesmo, sem nenhum favoritismo quanto ao filme em si. Me lembra um pouco a corrida de 2015, quando Trumbo e Beasts of No Nation foram indicados a melhor elenco, mesmo sem muitas perspectivas para o Oscar de melhor filme. Agora, parece que esse é o caso de Bohemian Rhapsody e Crazy Rich Asians. Os outros três… Bom, esses eu acho que estão garantidos na disputa pelo maior prêmio da indústria cinematográfica.

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