O Segredo de Davi | Cobertura da Pré-Estreia + Entrevistas com elenco e o diretor

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 22 de novembro de 2018

O Segredo de Davi é o novo e estiloso suspense nacional, que chega às telas do cinema. Com uma boa dose de mistério e traçando um protagonista complexo, o estreante Diego Freitas traz um trabalho interessante e consegue criar uma atmosfera misteriosa, mostrando ser um diretor importante de se acompanhar. Em seu primeiro longa, que participou do Festival de Cinema de Montreal, ele apresenta a história de Davi: um tímido estudante que se transforma quando um instinto esquecido vem à tona. O personagem comete um assassinato e começa a seguir numa assustadora jornada de crimes.

Nossa equipe esteve na pré-estreia do filme, que aconteceu na última quarta-feira (21) no Cinemark Downtown do Rio de Janeiro. O evento teve a presença de grande parte do elenco e do diretor, além de convidados.

O processo de criação

Em entrevista, Diego Freitas nos contou que teve a ideia para o filme logo na sua juventude. Além de dirigir, ele escreveu o roteiro:

“Foi o seguinte: ele surgiu quanto eu tinha uns 18 anos de idade, mais ou menos, e talvez de uma carência que eu tinha dentro de mim de querer me aproximar da minha família. Aí pensei ‘e se o moleque matasse para ter a família de volta?’ Surgiu daí, da idealização de uma família perfeita. E sempre quis fazer um filme que envolvesse uma estética legal, quebra-cabeças, que fosse uma trama um pouco mais elaborada em termos de camadas… Enfim, um tipo de filme que sempre gostei de assistir. Foi isso: algo pessoal que virou uma ficção. Não sou nenhum serial killer, tá?”, brincou ao final da resposta.

Nos momentos em que Freitas explora a mente de Davi, o público entende que está diante de uma obra diferenciada e com uma estrutura narrativa pouco vista no cinema.

“Desde o começo eu pensei em utilizar o realismo fantástico. Nunca quis fazer um filme 100% realista”, revelou o diretor. “Quis fazer algo que tivesse uma criação de um universo. Então ele tem uma paleta de cores e figurinos muito específicos, a direção de arte fizemos em um estúdio justamente porque criamos aquelas coisas para elas não parecerem reais. É quase reais, não é totalmente uma viagem.

Por isso sempre vimos o filme pelo ponto de vista do protagonista. Em nenhum momento você tem um ponto externo, é sempre o dele. Assim sempre ficamos na dúvida do que é ou não real. Por isso você precisa se empenhar em mergulhar nessa história. Tem muitos símbolos desde o começo. A estrutura do Cisne Negro (2010) foi uma grande referência para mim. Uma espécie de desintegração da mente.”

Os personagens

“Olha, foi com certeza o maior desafio que eu tive até aqui”, revelou Nicolas Prattes, que interpreta o Davi. “É um personagem que comigo só tem a ver a idade. Ele é um cara totalmente introspectivo e que tem duas personalidades. Então construímos essa dualidade em um jovem, sem ficar antipático, querendo humanizá-lo. Não vissem matança por matança, que as pessoas vissem ele como um anti-herói. Foi uma construção totalmente do zero, busquei referências em Bates Motel, Psicose, Donnie Darko, O Abutre… Então juntei tudo isso e fui pegando o que achava que cabia, para construir esse Davi.”

Para André Hendges, que interpreta o enigmático Jonatas, o processo de chegar ao personagem foi bem mais longo. O ator vem dos teatros e está em seu primeiro longa: “Fiz três testes para pegar o papel. Li o roteiro, gostei muito e o personagem me chamou a atenção. Dediquei muito de mim no teste, mas sei que o Diego testou muitos outros. Fui bem no primeiro teste, então voltei mais duas vezes. Um papel desafiador, um personagem instigante com duas fases distintas. Ele tem dois jeitos de ser, então isso deixou-o mais rico.”

Já para João Côrtes, que também está no elenco, o filme chegou através do próprio diretor. Caio, seu personagem, é um alívio cômico diante de uma história tão sombria:

“Quando o Diego chegou em mim, o projeto ainda era muito bruto, mas fiquei muito interessado. Tipo ‘nossa, roteiro diferente!’, algo que não estamos acostumados a ver no Brasil. Uma pegada de suspense com psicopatia. Gostei do Caio ser um personagem obscuro com esse senso de humor negro, que a gente ri dele. Depois de alguns anos o Diego voltou e falou novamente do projeto, querendo muito que eu fizesse o papel. Então filmamos e foi incrível, formamos uma família muito linda de pessoas que amam cinema e que ralaram. Foi muito bom.”

A estética e os desafios de O Segredo de Davi

De acordo com Prattes, o figurino e o visual de Davi foram muito importantes para a construção do personagem:

“Tive uma preocupação muito grande em ter um distanciamento do Nicolas pro Davi. Me olhei no espelho e falei ‘cara, vamos ver tudo que você já fez… Para que ninguém tenha alguma referência do seu trabalho. Vamos ficar loiros’. Aí tive essa ideia de pintar o cabelo. Minha mãe [Giselle Prattes, também está no filme], que é mais por dentro da moda, foi procurar cortes e tons de loiro. Fui pro salão – e não quero mais fazer isso, porque coça muito. Ter um rosto limpo, num cara que teoricamente é todo certinho, transparente – mas que não é nada transparente. E o figurino foi muito importante, com muitas camadas porque ele é um enigma. Casaco, luvas, gorro… Um All-Star vermelho que é pra marcar bem. Então tudo isso me ajudou a entrar no personagem.”

O ator ainda deu outros detalhes dos bastidores: “As cenas dos assassinatos foram minhas maiores dificuldades. Porque o ator é uma coisa muito doida, né? Você tem suas índoles e crenças como pessoa, mas quanto atua tem que ser um papel em branco. Esquecer tudo que acredita, pra ver uma violência desse tamanho e pensar ‘não posso questionar nada’. Uma dificuldade em me jogar, acreditando que eu estava fazendo certo. Saber criar o estado de espírito daquela cena. Ainda mais que essas cenas foram as últimas a serem gravadas.

Tivemos o Marcio Mehiel, que é um excelente preparador de atores. Ficamos ensaiando de seis a oito horas por dia, então saímos com todas as cenas do filme no telefone. Para ver o que já tínhamos alcançado no que queríamos fazer. Para desconstruir, ele falava pra mim ‘vamos zerar agora? Voltar pro Nicolas? Você vai descansar pro dia seguinte’. Criamos técnicas que me faziam retomar a consciência de pessoa. Como por exemplo, eu dava voltas pra direita porque ajudava a me recarregar. Para no final conseguir só ter uma memória de antes para você voltar a ser o que era antes.”

Hendges encontrou dificuldade nas cenas mais íntimas: “São mais difíceis. É muito louco, porque os amigos falam ‘e aí, você já fez cena nu? é legal?’. Acham que é massa, mas são as piores de se fazerem. É desconfortável, você não tem intimidade com a pessoa. Podem ser amigos, mas é outra coisa. Por mais que o Diego tenha colocado uma equipe reduzida, uma luz confortável, elas são complicadas.”

“Meu maior desafio foi entender a mente do Caio”, disse Côrtes. “Compreender os gestos, o que ele pensa… Por ser uma participação menor foi algo mais focado, mais específico. É sempre bom fazer algo diferente da gente.”

Próximos projetos

Apesar de não ter dado detalhes, Freitas nos revelou já ter um novo projeto a caminho:

“Tenho mais um roteiro já escrito, que está em desenvolvimento, pré-produção. Ainda não foi financiado. Também é um suspense, mexe com o psicológico. Bem parecido, porque acho que é o tipo de cinema que quero fazer. Não que eu vá me limitar à um gênero, até porque o próprio O Segredo de Davi não é um gênero específico. Ele tem terror, drama, um pouco de romance… Fazer dessa forma.”

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