O Tradutor | Entrevistas com Rodrigo Santoro e os diretores Rodrigo e Sebastián Barriuso

Escrito por: Pedro Henrique Figueira

em 29 de março de 2019

acidente nuclear de Chernobyl, um dos maiores desastres da história mundial, ocorreu em 1986 e até hoje é relembrado pelas pessoas que viveram na época e as afetadas pela catástrofe. Nesse contexto, os diretores Rodrigo e Sebastián Barriuso decidiram situar a trama de seu novo filme O Tradutor, baseando-se em fatos reais. Os irmãos contam a história do próprio pai Malin: um professor de literatura russa, que trabalhou diretamente com as vítimas de Chernobyl, ao ser designado para ser tradutor na ala infantil de um dos hospitais que recebiam os afetados pela radiação. Você pode conferir a nossa crítica do longa, clicando aqui.

Na última sexta-feira (22), aconteceu a pré-estreia carioca no Cinépolis Lagoon com a presença ilustre dos próprios diretores e do astro Rodrigo Santoro, que interpreta o protagonista Malin. Nosso site cobriu o evento, que também teve vários convidados famosos. Também tivemos a oportunidade de realizar entrevistas com os irmãos Barriuso (respostas traduzidas) e com Santoro.

“Fazer esse filme foi super interessante.”, disse Sebastián Barriuso, ao questionarmos sobre a ideia do projeto. “Não sabíamos onde chegaríamos contando sobre a nossa vida, sobre o nosso passado que não conhecíamos tão bem.”

“A concepção do projeto, como um todo, foi de aproximadamente cinco anos. Graças a Sebastián, o projeto foi iniciado no Canadá, junto da roteirista e coprodutora do filme Lindsay Gossling. E depois passamos por outros laboratórios internacionais, onde recebemos apoio com a gestão e estratégia financeira, além da produção. A real concepção surgiu em 2013, e já em 2015 estávamos desenvolvendo. Viemos a rodar no início de 2017, finalizando em 2018. Ao todo, foram 5 anos bem condensados.”, comentou Rodrigo Barriuso.

Sebastián ainda nos contou como foi trabalhar com Santoro: “Trabalhar com Rodrigo foi uma experiência super interessante, linda e enriquecedora. Ele é um ator muito talentoso e que não existe igual. Ficamos felizes de tê-lo conosco e por trabalharmos nessa coprodução junto ao Brasil.”

Quando Santoro nos detalhou o seu processo de construção do personagem, ele explicou que ainda não era pai de Nina, fruto do casamento com a apresentadora e escritora Mel Fronckowiak:

“Na verdade, eu não era pai quando estava fazendo o filme. Faltavam cinco meses para me tornar, mas foi sim um paralelo muito interessante pois esse personagem que eu faço, o Malin, ele lida com a paternidade do começo ao fim da história. É um homem que tem muita dificuldade de lidar com a vida particular da mulher e do próprio filho, e ele tá inserido no seu próprio mundo. Ele é convocado pra trabalhar como tradutor no hospital de crianças vítimas do acidente de Chernobyl, ajudando na comunicação entre essas crianças e as famílias e os médicos cubanos, entre o russo e o espanhol. Então, esse personagem está o tempo todo se relacionando com a paternidade. E eu estava nesse momento, enquanto filmava, pensando sobre o assunto. Hoje em dia eu sou pai, mas na época eu ainda não era.”

Por fim, o ator brasileiro, reconhecido internacionalmente, nos respondeu o que aprendeu com o longa e conseguiu levar para a vida: “Difícil te resumir. Foram muitas coisas, porque o fato do filme se tratar de uma história real e eu ser dirigido pelos filhos da pessoa que viveu isso, fez me aproximar muito da família. Aprendi bastante sobre a cultura russa e cubana. Tinha um conhecimento mais superficial sobre escritores que eu sempre gostei como Dostoyevsky, Tolstoi… São grandes escritores, mas eu aproveitei essa oportunidade pra me aprofundar. Fiz com o Manuel, que é o protagonista real dessa história, algumas sessões de Skype. E ele sugeriu muitas referências de música, cinema, literatura e eu mergulhei muito nisso. Então foi um aprendizado incrível pra mim. Trabalhar com as crianças também. Conhecer mais profundamente as consequências desse acidente, que foi, provavelmente, o maior acidente nuclear da história mundial. Enfim… São tantas coisas que fica difícil de enumerar.”

PERGUNTA EXTRA, FEITA POR EMAIL – COM SPOILERS:

Existem três cenas em O Tradutor que, ao meu ver, possuem algum tipo de conexão com relação ao que acontece: a primeira é a cena em que Malin (Rodrigo Santoro) usa o elevador para chegar ao andar das vítimas de Chernobyl. Enquanto ele está no elevador, acontece um pico de luz, mas ele logo chega ao andar e pela primeira vez vê uma das vítimas; a segunda é a cena que falta luz no hospital, deixando todos os médicos e pacientes apavorados, principalmente Mali por causa da situação de Alexi; e a terceira é a cena em que Malin vai avisar a um dos pais sobre a morte do filho, onde mais uma vez acontece um pico de luz.

Em minha observação, essas três cenas estariam conectadas como se os picos e a falta de luz fossem um recurso utilizado para criar uma tensão, esclarecendo que algo importante acontecerá em seguida. Isso foi proposital?

Rodrigo Barriuso: “Muito obrigado por nos enviar isso. Eu adoro quando jornalistas/críticos leem nas entrelinhas e encontram essas conexões. Efetivamente é um recurso deliberado, usado para destacar elementos dramáticos e visuais.

Na primeira cena, é usada como um prenúncio do que está por vir – a própria escuridão para a realidade do hospital, mas também a crise econômica que virá depois da queda do Muro de Berlim. Na segunda, funciona como um gatilho para a condição médica que [SPOILER] acabará por levar a vida de Alexi. Malin e Gladys entram na sala de isolamento sem usar as roupas estéreis necessárias para evitar a contaminação. Alexi poderia ter sido comprometido pelo contato com eles ou pela falta de ar condicionado no prédio. É algo que decidimos lidar com a ambiguidade e deixá-la aberta à interpretação pública, mas, em todo caso, é sempre causada pela falta de luz no hospital. Na terceira, funciona como um recurso metafórico para acentuar o caráter mais sombrio de Vladimir e o início do momento mais intenso de Malin (o menino com que desenvolveu uma conexão emocional está morto, e sua esposa está prestes a sair para a casa de seus pais com Javi). A despedida entre os dois homens é visualmente marcada por essa luz fraca e intermitente… Será que trevas estão vindo? Há sempre flashs de luz? Aberto à interpretação de cada um.”

Confira abaixo, em vídeo, os agradecimentos dos diretores (com legendas) e também o discurso emocionado de Santoro, ao relembrar de um amigo:

O Tradutor chega aos cinemas em 4 de abril.

Entrevistas feitas em colaboração com Luan Ribeiro e Raphael Gomide, do site ArteCult | Instagram: @artecult. Agradecimentos também à assessora Thais Prudente, por enviar a nossa pergunta ao diretor.

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